sexta-feira, 20 de junho de 2025

Avenida Marginal: Contos à Beira-Mar!

      
     Saiu em Abril do ano passado e tem na capa a ilustração Rapaz do Calhau, de João Amado, numa edição que conta com a coordenação de Maria Helena Frias e, da sua casa editora, a Artes e Letras. A publicação Avenida Marginal vai, assim, no seu número cinco  e esta edição contou com um conjunto de narrativas em torno das ilhas e dos ilhéus. Esta súmula de contos/ficções apresenta diferentes autores, quase todos eles relacionados com este território insular: Alexandre Borges, Carlos Bessa, Carolina Bettencourt, Catarina Ferreira de Almeida, Herberto Gomes, Judite Canha Fernandes, Leonardo Sousa, Luiz António Assis Brasil, Maria Brandão, Maria das Mercês Pacheco, Marta Ávila e Teresa Canto Noronha.
      A leitura de Avenida Marginal abre com o conto Demónios à Tua Beira-Mar, de Alexandre Borges, onde é retratado um ambiente sui generis de conferências, bebidas brancas e psicólogas, com diabretes à mistura. Segue-se Aurea Mediocritas, do poeta Carlos Bessa, numa descrição de uma relação longínqua e prolongada no tempo, marcada pelo desgaste e pela rutura. A presença do futebol na ilha, a força deste desporto e das suas paixões, pressente-se em Capitão de Equipa, de Carolina Bettencourt. A autora Catarina Ferreira de Almeida compõe um retrato de uma mulher virada para o mar, com uma história intitulada Memória de uma Onda. O conto Enganos e Desenganos de Desidério Domingos traz-nos a primeira ficção de Herberto Gomes, jornalista de profissão, que nos conta a história de um soldado que falha na sua missão, no entanto cumpre o seu  traumático regresso a casa carregado de aventuras. Em Carta de um Vulcão para o Mundo, Judite Canha Fernandes, expõe na ficção a presença e influência do Vulcão dos Capelinhos na vida insular aquando da sua erupção. Whatever People Say I Am, de Leonardo, é uma narrativa ficcionada e autobiográfica de uma improvável personagem, de seu nome  Biografia. Curiosa é também a conversa que o brasileiro Luiz António de Assis Brasil, mantém com a ilha, com este espaço e, mais concretamente, com escritor José Martins Garcia, neste caso em modo Grapefruit. Embuste é a proposta de Maria Brandão, autora micaelense que ironiza por aqui a sua relação com a editora da casa, evitando as "divagações íntimas", mas onde ambas têm muitas cumplicidades passadas. Daqui do Alto, de Maria das Mercês Pacheco, é um conto vivenciado no passado em que este "é um vulcão adormecido sob lençóis de cinza e musgo; o futuro, a promessa de incandescência". Um cheirinho da natureza extrema que, por vezes aqui se vive, é contada em Há Anos que Não Ne Lembrava de um Dia Assim, por  Marta Ávila. Esta rica e variada plêiade de autores e narrativas termina com o texto A Touca Branca, de Teresa Canto Noronha, num mergulho singular à sua infância insular com sabor a “salada de atum, com maionese, rosbife, e gelados da carrinha que apita ao pé do bar”. 
      É, sem qualquer dúvida, uma boa leitura de estio e, com páginas suficientes, sobretudo para que estas se possam encher de areia negra e fina, para lá da Avenida Marginal!

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