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segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Do Êxito

Ter alguém à nossa espera algures é o único sentido da vida, e o único êxito. 
                
Manuel Villas, in E Em Tudo Havia Beleza, Ordesa, Alfaguara, 2018.

segunda-feira, 12 de agosto de 2024

Da Pobreza

         "Gostava de salvar aquela ternura, a ternura com que a minha mãe me ajudava a fazer as malas quando partia de Barbastro para Saragoça naqueles anos, em 1980, em 1981, em 1982, as coisas que me punha dentro da mala, como me ajudava com a roupa, como me punha comida em frascos de vidro, e depois eu ficava a olhar para tudo aquilo e o desamparo vencia-me.
          Na realidade, tudo isto tem a ver com a pobreza. Era a pobreza - como éramos pobres - que me fazia tremer de medo. E deu-me para chamar ternura ao medo. 
        Se tivéssemos sido ricos, tudo teria corrido melhor, e essa é a verdade de todas as coisas.
         Se os meus pais tivessem tido dinheiro, tudo teria corrido melhor. Mas não tinham nada, absolutamente nada. A confissão da pobreza em Espanha parece uma imoralidade, algo repudiável, uma afronta. E, no entanto, é o que quase todos fomos.
         Fomos pobres, mas com pinta. 

Manuel Vilas, in "Em tudo havia Beleza - (Ordesa)", Alfaguara, 2018.

segunda-feira, 23 de maio de 2022

Do Poder

     "Aquilo que nos acontece no dia-a-dia, não é tanto resultado de acasos mas sim de decisões de um núcleo de poder. O que acontece no mundo vem desses vários núcleos de poder e os cidadãos podem estar mais próximos ou afastados deles. É fundamental que esses núcleos sejam ocupados pela cidadania, pela participação das pessoas."

José Carlos Barros, in Ipsílon, sexta-feira, 20 de Maio de 2022

terça-feira, 12 de junho de 2018

Corpo Triplicado de Maria Brandão


                                                                                                    Sentido Único


            Na minha casa não há roupa fora de uso, fotografias antigas, recordações de viagens, revistas desbotadas, recortes de jornais, bilhetes de amor, recibos de compras, artigos decorativos, vasinhos de plantas ou animais de estimação. Livro-me de coisas inúteis como me livro dos amigos hipócritas e dos amantes incompetentes. Sem remorso e sem saudade.

Maria Brandão, Edição Companhia das Ilhas, 2018.

domingo, 12 de novembro de 2017

De Raul Brandão

       "O que eu procuro, pela primeira vez na minha vida, não é o panorama - é a exaltação da vida livre."

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

São Miguel: Uma Doce Melancolia

Daqui: www.wook.pt/
“A melancolia é uma arte. Vede quanta beleza existe no próprio e simples dizer das cinco sílabas desta palavra: me-lan-co-li-a. Agridoce, tão próxima do silêncio interior como das mágoas do olhar, nos Açores esta palavra é comum a todas as ilhas. E a todas as pessoas. Mas em nenhuma delas como em São Miguel ela resulta tanto desta forma de contemplar o encanto da paisagem: de a ver de coma (quando se sai da Ribeira Grande para o alto da serra, a caminho da Lagoa do Fogo): a gente pára ali, a meio da encosta, volta-se para trás, e pasma. Deslumbra-se com o que tem à frente dos olhos. Aquilo que se avista de lá de cima é como um tombadilho gigantesco, todo verde e quase plano, o qual roda em círculo connosco e envolve o gesto que aponta para aquém da cidade da Ribeira Grande e de Rabo de Peixe. A palavra melancolia vê-se também no próprio espanto que em nós estranha e não explica o verde-azul-amarelo da terra mar, corpo lânguido e feminino da paisagem, trecho da costa norte fendido ao meio pela Ponta do Cintrão: baixa, e até maneirinha, à esquerda; alta e muito recortada para as bandas de Porto Formoso. Os tons esmeralda da pradaria e das matas de incenso e criptoméria parecem a um tempo colidir e complementar-se entre si; ao longe e em baixo, a brancura das casas – que se perfilam ao longo das ruazitas desertas, tortuosas, com as suas barrinhas de basalto em volta de portas e janelas – resplandece acima dos verdes múltiplos da terra, como numa marcação a giz dessa cor.
A paisagem que do alto se despenha aos nossos pés, primeiro a prumo ou em declive acentuado, depois num remanso que se derrama até o azul do mar, prolonga-se afinal até se espraiar pelos cerrados de milho e tremoço, pelos hortos e jardins do tabaco e pelos campos de chá. O prazer e o assombro de tanta beleza excedem o nosso modo de olhar. Passam para além do pasmo e recordação.”
João de Melo, in “Açores – O Segredo das Ilhas”, Publicações Dom Quixote, edição revista e acrescentada, 2016. 

quinta-feira, 21 de julho de 2016