"Gostava de salvar aquela ternura, a ternura com que a minha mãe me ajudava a fazer as malas quando partia de Barbastro para Saragoça naqueles anos, em 1980, em 1981, em 1982, as coisas que me punha dentro da mala, como me ajudava com a roupa, como me punha comida em frascos de vidro, e depois eu ficava a olhar para tudo aquilo e o desamparo vencia-me.
Na realidade, tudo isto tem a ver com a pobreza. Era a pobreza - como éramos pobres - que me fazia tremer de medo. E deu-me para chamar ternura ao medo.
Se tivéssemos sido ricos, tudo teria corrido melhor, e essa é a verdade de todas as coisas.
Se os meus pais tivessem tido dinheiro, tudo teria corrido melhor. Mas não tinham nada, absolutamente nada. A confissão da pobreza em Espanha parece uma imoralidade, algo repudiável, uma afronta. E, no entanto, é o que quase todos fomos.
Fomos pobres, mas com pinta.
Manuel Vilas, in "Em tudo havia Beleza - (Ordesa)", Alfaguara, 2018.
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