Gosto muito pouco dos meus
contemporâneos quando pensam em grande, de forma descomunal, mania das
grandezas, agindo depois de maneira desproporcional. Pensam e pensaram sempre muito alto, das
cidades às artes, pensam sempre desmedidos,
à patrão, como se costuma dizer. Cresci com estes meus contemporâneos a dar
cabo lentamente dum país à beira mar plantado, primeiro com mamarrachos, rotundas,
estádios de futebol, centros culturais e outros colossos de um país pobre, mas
com ideias arrancadas à força ao primeiro mundo e agora confundidos com as estatísticas realistas do terceiro-mundo. E assim calados e aluados, silenciosamente, nos penitenciamos.
Acobardamo-nos. E eu também sem o querer, porque fiquei afastado, também me sinto
culpado. Foram prédios à beira-mar fora
de escala, escolas de grande dimensão em que se misturam grandes com miúdos, edifícios
faraónicos, rotundas sem pompa nem circunstância, urbanidade sem calma nem
paciência, centros históricos arrasados e destruídos. Deste caldo cultural, gerado pelo novo-riquismo e o mau gosto, veio a prepotência, a arrogância,
a incultura. E, claro, muita, muita parolice. E fomos todos, sem excepção,
lentamente, perdendo a paciência. Prefiro,
por isso, ainda hoje os que correm devagarinho, os corredores de fundo em vez dos exibicionistas dos cem metros, ainda que muitas vezes pequenos, sem armar ao
pingarelho, discretos, fazedores do seu percurso habitual e natural, descansando, por vezes, até caírem para o lado. E não muitas vezes sem holofotes, sem apoios, patrocínios ou foguetes. Não desarmam, aguentam, levam a água ao seu moinho. É por estes que eu hoje me quero bater, estar ao lado, ser cúmplice. Aqueles que, cultivando e lavrando o seu pequeno terreno, dão sinais dos melhores frutos, de brotar a melhor flor. Ah...raios e coriscos. Corajosos. Dão sinais de um tempo outro por vir.
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