"-Sim, é certo, eu desconfiava que isto iria ser assim”. afiançou com toda a pujança. “-Assim,
como?”, perguntei. Naquele precioso instante desfilavam na minha memória
imagens de pirolitos frescos a escorrer pela garganta, bicicletas exangues
encostadas ao musgo das paredes, tardes de praia temperada com barracas de tiras
azuis a proteger da nortada, numa frase ouvida e repetida numa eternidade:“-Vem
aí os Canhões!”. Enfim, cinquenta
anos passaram sobre o momento histórico e até parece que tudo isto não passa de
uma canção que ressoa a liberdade em cada um de nós na hora de voltar à carga.
Valha-nos, pois, essa palavra leve e verdadeira com que cunhamos a efeméride. Uma palavra que pretendemos justa, como carne vivificada em nós, uma elevação
maior perante o que ainda poderemos fazer no futuro. “É pouco”, diz-me
quem já não acredita que se possa ter como lema existencial o archote da
esperança! “Talvez”, apaziguo-lhe a raiva e confirmo-lhe a incerteza do tempo sombrio que nos calhou viver. Reafirmo, no entanto, que a mágoa do abandono é grande e não é só desta pessoa em concreto mas também por tudo aquilo
que foi amado e que já não volta, e por isso faço questão de relembrar esse gesto
inicial que retoma agora à sua fonte principal e, quem sabe, ainda se possa
renovar. Acreditemos!
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