Daqui a uma semana, se fosse vivo,
Alexandre O´Neill faria 100 anos de idade. Era um grande poeta, um verdadeiro
amante das letras, um real artesão no ofício de bem tratar e usar a língua portuguesa.
Lembro-me na adolescência de transportar o seu livro de poesia, “No Reino da
Dinamarca”, de 1958, para todo o lado. Lia-o nas estações de comboio, durante
as viagens entre a Póvoa e o Porto, ou nos intervalos dos filmes dos
cineclubes. Sabia, pois, de cor alguns dos seus slogans publicitários,
sobretudo aquele relacionado com o Instituto de Socorros a Náufragos – “Há mar
e mar, há ir e voltar”. Tinha, inclusive, amigos literatos que o consideravam
um poeta menor, algo frívolo, por causa do seu lado mundano, excessivamente
dado a coisas corriqueiras, o seu apego pelas minudências do quotidiano. E,
obviamente, o seu interesse pelo disforme, o hediondo, o trágico – “Dai-nos,
meu Deus, /um pequeno absurdo quotidiano que seja, /que o absurdo, mesmo em
curtas doses, /defende da melancolia e nós somos tão propensos a ela!”.
Mais tarde, já na universidade, o Alexandre O´Neill ocupou um lugar especial, dado que serviu muitas vezes de porta-estandarte para apontar falhas ou depreciar os destinos de um país que, por vezes, temos muitas dificuldades em seguir e aprovar, mais concretamente, "o país engravatado todo o ano e a assoar-se na gravata por engano”. Com outros companheiros das lides teatrais, ocupámos de versos e histórias pessoais o Café Santa Cruz, na baixa de Coimbra, e assim deambulámos “No Reino de O´Neill”, numa sessão que julgamos memorável, até pela bicicleta, símbolo dos surrealistas contra a rotina, que principiou connosco aquele tributo.
O Alexandre O´Neill pretendia desimportantizar a linguagem e, pensava, inclusive, que o feio devia ser motivo de muita afinação e decantação, até forçar o aparecimento do belo. Estranhamente, este enorme poeta trabalhou a vida inteira enquanto publicitário e, tal como um adolescente, fartou-se de tropeçar de ternura!
Mais tarde, já na universidade, o Alexandre O´Neill ocupou um lugar especial, dado que serviu muitas vezes de porta-estandarte para apontar falhas ou depreciar os destinos de um país que, por vezes, temos muitas dificuldades em seguir e aprovar, mais concretamente, "o país engravatado todo o ano e a assoar-se na gravata por engano”. Com outros companheiros das lides teatrais, ocupámos de versos e histórias pessoais o Café Santa Cruz, na baixa de Coimbra, e assim deambulámos “No Reino de O´Neill”, numa sessão que julgamos memorável, até pela bicicleta, símbolo dos surrealistas contra a rotina, que principiou connosco aquele tributo.
O Alexandre O´Neill pretendia desimportantizar a linguagem e, pensava, inclusive, que o feio devia ser motivo de muita afinação e decantação, até forçar o aparecimento do belo. Estranhamente, este enorme poeta trabalhou a vida inteira enquanto publicitário e, tal como um adolescente, fartou-se de tropeçar de ternura!
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