segunda-feira, 9 de junho de 2025

Terra Natal de Rui Lage

A bacia range sob o peso da roupa 
que há muito a mãe já não lava
nas águas da terra natal. 

in Berçário, Quasi Edições, 2004.

No Inimigo Público do Expresso...

"Velejador açoriano que terminou volta ao mundo em iate durante sete anos desolado por perceceber que António Costa não fez as reformas estruturais.

   O velejador Norberto Serpa partiu numa volta ao mundo quando o primeiro minsitro António Costa tinha apoio parlamentar de toda a esquerda, tendo o açoriano deixado o seu país em boas mãos, apenas para descobrir esta semana, ao regressar de sete anos de viagem, que Portugal está pior, tendo mesmo dado boleia no veleiro a uma grávida dos Açores para ir ter o filho a uma maternidade pública de Lisboa. Já um aviador açoriano que deu a volta ao mundo durante sete anos ficou espantado ao descobrir que não podia aterrar nos novos aeroportos internacionais de Lisboa do Montijo, Moita e Alcochete."   

 V.E. in Inimigo Público, Jornal Expresso,  3O de Maio de 2025.  

domingo, 8 de junho de 2025

O Novo Flâneur de Ana Hatherly

 O novo flâneur urbano
herdeiro 
do velho alegorista baudelariano
deambula 
pelas grandes superfícies
do consumo 
onde se exibem
da produção
os ruidosos traços 

Aí 
tudo está encenado
e entre a carência e a oferta
personagens principais
deste espectáculo
o novo flâneur
contempla 
e depois sucumbe 
no mercantil mar iluminado
onde cintila
a avidez jamais satisfeita 
do mais querer 

Porque algo sempre falta
e o desejo 
tudo dilacera 
numa batalha
de antemão perdida
em que o sangue-frio 
não serve p´ra nada.
II
O novo flâneur
navega 
num informático oceano
feito de simulacros
de imaginadas redes de sentido

Olha o écran
o novo espelho 
que figura e desfigura 
o seu medo maior

Onde é que há 
um espelho que tranquilize?
A imagem é só ela:
uma constelação de impasses
um palimpsesto 
feito de interfaces

in Itinerários, Quasi Edições, 2003.

Da Insensibilidade

      "Somos constantemente bombardeados por imagens de violência que se tornam parte daquilo que consumimos nos media, ao lado de anúncios, pinturas, poemas ou bocados de diálogos. E com tantas atrocidades a acontecer no mundo, o modo como as enfrentamos é importante. Como chegamos a este lugar onde podemos parar e pensar, onde podemos estar nessa solidão, encontrar o nosso centro moral? A resposta está em parar de consumir, de agarrar no telefone, de abrir o computador, de olhar para fora de nós mesmos. Porque parte da insensibilização acontece através do consumo, mediado hoje pela tecnologia."

Samantha Rose Hill, em entrevista a Luciana Leiderfarb, in Revista do Expresso, dia 6 de Junho.

Verso de A Garota Não

Tudo começa numa estrada que termina no Alaska 

Ferry Gold, 2025 

Verso de Anna Järvinen

Ge mig hopp, ge mig tro, ge mig nåt

sábado, 7 de junho de 2025

Yuzin: Junho Verde Alface

Capa da Yuzin
Mês de Junho, 2025
          A Yuzzin do mês de Junho  mostra-nos uma ilha em movimento, um conjunto de atividades para que nos possamos deixar levar pela sua modesta “movida cultural”. Desta vez, aposta numa capa colorida onde sobressai o verde claro e vibrante, típico das planícies açorianas por esta altura. É hora, pois, da meteorologia fazer o seu caminho, dado que foi um Inverno demasiado longo e nublado, momento para guardar as roupas mais quentes e sair à rua com outras mais arejadas. Esta agenda é, sem dúvida, um serviço público que é prestado à comunidade micaelense, já que permite estar atento à diversificada programação estival insular. Com tanto festa em impérios, bailaricos e festivais fora de portas, não faltam  escolhas para ver, ouvir, sentir, ou, simplesmente, contemplar.

Ontem, escrito numa parede da cidade

 Os miúdos largam balões ficando apoquentados os aviões

Andrea Santolaya: A Ilha de Sam Nunca

         
Homem Pássaro, 2023
Não há sorrisos nestas fotografias e não há nenhum problema nisso. Só rostos fechados, pés e asas em movimento, gente dorida em romaria, dia de festa ou celebração. É Rabo de Peixe longe dos holofotes mediáticos e dos preconceitos sociais. Enquanto observadora atenta, Andrea Santolaya destaca o fascínio de quem aqui aporta e faz o registo de quem se aproximou e acaba por se deparar, muitas vezes, com a lonjura, o fechamento e a separação. Esta é, sem qualquer dúvida, uma sensibilidade particular, um mergulho bem fundo na interioridade que precisamos saber apreciar.
       Esta súmula de fotografias intitulada “A Ilha de Sam Nunca”, de Andrea Santolaya, é para levar a sério, digna de um espelho comunitário, tem tanto de real como ficcional, que até parece exclusivamente verídica! Há, no entanto, uma fotografia de cortar a respiração - três mulheres, aparentemente trata-se de uma mãe e duas filhas, encontram-se junto à porta e paredes de uma casa da freguesia, pintada com as cores da bandeira nacional – aqueles rostos magoados e esgares cerrados é pura poesia visual! Creio que foi Roland Barthes que afirmou que se uma fotografia nos prendesse um minuto que seja da nossa a atenção, isso revelaria  a  intencionalidade e relevância daquele gesto! E que gesto! 

Nota: As fotografias encontram-se expostas no Museu Carlos Machado (Núcleo de Santo André) e na Galeria Fonseca e Macedo

domingo, 1 de junho de 2025

Verso dos Pulp

 Spike Island come alive by the way 

Da Saúde

      "Quanto mais doente for uma sociedade, quanto mais desesperadas estiverem as pessoas, mais elas querem ser saudáveis. 70% dos adultos americanos tomam um medicamento. Comem lixo! A cultura vende-lhes lizo para comer! E o stress aumenta por causa dessa comida. Claro que as pessoas estão desesperadas por serem saudáveis. Mas não estão à procura das causas, estão só a ver os efeitos."
Gabor Maté, in Ípsilon, 2 de Maio de 2025. 

Factory

         
        "A música da Factory (Joy Division, A Certan Ratio, Durutti Column, Crispy Ambulance, Repetitio) tem sempre prazer na languidez, estende-se muito por toda a parte, na chaise longue mal estofada da existência, estimulando-se com pitadas parcimoniosas de rapé, e procurando lentamente uma expressão lúgrube e calmamente tenebrosa para o deleitamente depressivo de massas estudantis. Se António Nobre estivesse vivo e tocasse umas bacalhoadas, a Factory mandaria um emissário a Portugal, de contrato e gabardina na mão."

Miguel Esteves Cardoso, in Escrítica Pop - Edição Completa, Bertand Editora, 2022. 

Ontem, escrito numa parede da cidade

 O Bem Amalado