Somos burros que nesta estrada andamos
sexta-feira, 27 de dezembro de 2024
"Artistas na Fábrica" em Leiria
“Os Artistas da Fábrica” é uma
exposição conjunta de três artistas que, durante o contexto da segunda guerra
mundial e afirmação do neorrealismo no contexto da arte plástica portuguesa, desenvolveram
trabalho artístico na zona de Leiria, junto dos trabalhadores fabris. Com a curadoria de Raquel Henrique Silva,
assistimos a uma variedade de obras
pictóricas bem como fotografias dos autores, imagens de diversos documentos,
ainda pequenos filmes e testemunhos orais relacionados com a obras de Tereza
Arriaga, Manuel Filipe e Jorge Oliveira.
Destaque-se, assim, os trinta
desenhos a carvão dos “meninos do vidro” da artista Tereza Arriaga, todos eles
relacionados com as crianças que, à altura, trabalhavam nas fábricas de vidro
da Marinha Grande. Ela que seria professora de Artes Visuais mais de três décadas no ensino secundário, uma das raras
mulheres do seu tempo formada em Belas Artes. Depois, também podemos ver os
trabalhos do seu companheiro, Jorge de Oliveira, com os seus desenhos de
máquinas e engenhos na fábrica de cimento. Por fim, os notáveis desenhos negros
de Manuel Filipe bem como o seu texto “A Explicação” na abertura da exposição: “A
vida, meu presado visitante, não é só aquilo que as artes correntes te mostram,
por via da regra. A vida tem também os seus aspectos escuros, que ensombram
bastante dos seus setores. Peço-te desculpas se não vais ver aquilo que esperavas.”
Tudo isto acontece numa das salas do
espaço do M(i)mo – Museu da Imagem em Movimento, em Leiria, e estará aberta ao
público até ao final de Junho do próximo ano.
quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
domingo, 22 de dezembro de 2024
2025: Cada Vez Mais Vida!
O
ano chega ao fim e com ele surgem as listas dos filmes, dos livros, dos discos,
das viagens e das músicas que, supostamente, devíamos ter experienciado ou vivido. O diagnóstico é
sempre o mesmo: tanta coisa ficou por fazer no ano de 2024. E o que é verdade é que permanece sempre uma
descomunal aflição pelo que não ouvimos, não lemos, ou sentimos, por tudo
aquilo que, segundo os críticos, os especialistas, os influenciadores,
sobretudo no que nos faltou viver, talvez, sentir. Podemos, é certo, falar mesmo numa bioansiedade, isto é, uma ansiedade por viver cada vez mais! No gira-discos caseiro, a agulha
volta sempre ao princípio para ouvir o Leonard Cohen a tocar o “Famous Blue
Raincoat” e, com ele, seguir a luz do horizonte e do cenário das araucárias com os versos:
“It´s four in the morning, the end of December”. Há, por isso, qualquer coisa
que parece estar sempre a faltar, uma inquietação interior que não se enquadra
dentro de qualquer ordem ou substância material do universo. E…de repente temos
a sensação que o mundo se encontra em falta, em declínio, a autodestruir-se. Ao
mesmo tempo que olhamos em redor e sentimos de viva voz que o mundo está
doente, que se encontra em retrocesso acelerado, uma regressão energética e
civilizacional. Tornamo-nos, assim, insensíveis ao sofrimento do mundo, à queda
das bombas, ao caos generalizado. O que fazer?
Não falta quem nos diga que temos uma
enormíssima crise climática pela frente, acompanhada por uma galopante inflação
e demais guerras em marcha, conflitos sociais internos e externos e, para nossa
desgraça, diminuição de investimento em políticas públicas – saúde, educação,
cultura, habitação, transportes. Por parte da juventude, os sinais bem que podiam ser de esperança, no entanto,
surge a dúvida, já que à nossa frente existe uma comunidade que se abotoa ao
sedentarismo, à lógica dos écrans e das redes, uma forte resistência à
ilustração sem visão crítica do mundo. E, cúmulo dos cúmulos, há também muita
juventude sedenta de autoritarismo, preconceito e visões securitárias dos
estados democráticos em que vivemos. O mundo está muito perigoso, aliás, sempre
esteve!
Não falta quem nos diga que temos uma enormíssima crise climática pela frente, acompanhada por uma galopante inflação e demais guerras em marcha, conflitos sociais internos e externos e, para nossa desgraça, diminuição de investimento em políticas públicas – saúde, educação, cultura, habitação, transportes. Por parte da juventude, os sinais bem que podiam ser de esperança, no entanto, surge a dúvida, já que à nossa frente existe uma comunidade que se abotoa ao sedentarismo, à lógica dos écrans e das redes, uma forte resistência à ilustração sem visão crítica do mundo. E, cúmulo dos cúmulos, há também muita juventude sedenta de autoritarismo, preconceito e visões securitárias dos estados democráticos em que vivemos. O mundo está muito perigoso, aliás, sempre esteve!
quarta-feira, 18 de dezembro de 2024
segunda-feira, 16 de dezembro de 2024
Cinco de Paulo Ramalho
in Órbitas Elípticas em Torno do Silêncio, Letras Lavadas, 2024.
sexta-feira, 13 de dezembro de 2024
Se Fosses Só Três Sílabas...
Mais tarde, já na universidade, o Alexandre O´Neill ocupou um lugar especial, dado que serviu muitas vezes de porta-estandarte para apontar falhas ou depreciar os destinos de um país que, por vezes, temos muitas dificuldades em seguir e aprovar, mais concretamente, "o país engravatado todo o ano e a assoar-se na gravata por engano”. Com outros companheiros das lides teatrais, ocupámos de versos e histórias pessoais o Café Santa Cruz, na baixa de Coimbra, e assim deambulámos “No Reino de O´Neill”, numa sessão que julgamos memorável, até pela bicicleta, símbolo dos surrealistas contra a rotina, que principiou connosco aquele tributo.
O Alexandre O´Neill pretendia desimportantizar a linguagem e, pensava, inclusive, que o feio devia ser motivo de muita afinação e decantação, até forçar o aparecimento do belo. Estranhamente, este enorme poeta trabalhou a vida inteira enquanto publicitário e, tal como um adolescente, fartou-se de tropeçar de ternura!
quarta-feira, 11 de dezembro de 2024
segunda-feira, 9 de dezembro de 2024
Notícias da Feira Gráfica 2024
Alunos da E.S.Antero de Quental |
sábado, 7 de dezembro de 2024
Dois Poemas de Naná da Ribeira
Assim facilmente olvidada
Luva presa em mão esquecida
Horas de combustão acelerada
Antes do negócio, da fenda visível
Faz dele um vate um desenvolto
Arte do verso e fome da rima
Lenta cadência em ritmo certo
Tolo desarranjo de fácil alarido
Aceno sensível em feroz deserto
terça-feira, 3 de dezembro de 2024
domingo, 1 de dezembro de 2024
Fim de Semana: Teatro e Cinema na Ilha!
Final de Novembro, fim de
semana, ilha de São Miguel. Dias marcados por temperaturas amenas e algumas nuvens, permitindo-se, por vezes, a alguns
aguaceiros. Nada de muita monta, nada que estrague o tecido capilar. O fim de semana está aí e com ele o tempo livre
para espreitar a programação dita cultural. Há teatro no Ribeiragrandense (que
teatro tão lindo!) e ainda há filme português premiado no Cineteatro Lagoense. Que
surpresa maravilhosa, estas propostas. A data do aparecimento destas duas salas remonta ao
início do século XX, as mais antigas da ilha de São Miguel, porventura, ainda a dar o melhor de si, um século depois. Que força do passado podemos agora presenciar!
Comecemos pela noite de sexta-feira,
o cardápio sugere a peça “A Descoberta das Américas”, solo-monólogo do experientíssimo
actor-formador Júlio Adrião, oriundo da cidade do Rio de Janeiro, no Brasil. Uma experiência teatral que ficará na memória durante
os próximos anos, um expoente maior do uso da língua portuguesa em palco. Um verdadeiro encontro entre povos e a força do antigo colonizador e colonizado. São cerca de oitenta minutos, com o actor sozinho em palco, num diálogo com o narrador e com o personagem, fazendo pausas e sons da própria narrativa, com repetições hilariantes, obrigando-se,
assim, a um exercício físico imparável com
toda aquela carga simbólica do português do Brasil e do castelhano que vai usando aqui
e ali. Uma delícia! Espectáculo ganho, parabéns ao Festival POP, pela ousadia e pelo facto de
ter sido na Ribeira Grande, lugar duns poucos que acreditam que as Artes
de Talma pode fazer a diferença e que vaticina o quão faz falta esta arte e do que esta terá de trilhar em todos os lugares da ilha.
E depois, há cinema português com projecção em sala (quem diria?), desta vez num sábado outonal e solarengo, a meio da tarde, ali estava a sala do Cineteatro Lagoense com “Great Yarmouth - Provisional Figures", filme de Marco Martins de 2022. Sessão que contou com apenas quatro pessoas no público, provalvemente com divulgação reduzida ou fraco investimento institucional. Num tempo de mentiras, a ausência de pessoas na assistência serve apenas para adensar e justificar o discurso rancoroso aos que mudam de lugar, aos que arriscam um futuro diferente noutras paragens. De que serve um ciclo dedicado aos migrantes, aos que entram e partem, aqueles que pretendem melhorar as suas vidas noutros sítios que não os locais de origem, se depois, quotidianamente, não celebramos e honramos a sua façanha, se continuamos a não valorizar o seu gesto, se não presenciamos este encontro com a sétima arte? “Great Yarmouth - Provisional Figures" é um libelo cinematrográfico duro, intenso, marcado por uma actriz em estado de graça – Beatriz Batarda. E que força tem esta Beatriz, que vive e revive, porta-bandeira daquela comiunidade em desespero, filmada até à exaustão no seu mosaico de acres e álgicos sentimentos. Filme que nos perturba e assombra sem deixar de ser belo e poético! Que fim de semana artístico pleno de arte e beleza nos palcos e écrans! Um bem haja aos que o tornaram possível!
sábado, 30 de novembro de 2024
quarta-feira, 27 de novembro de 2024
Outono de Paulo Ramalho
e lhe chama só outono. A seguir terás chuva
e mais chuva, pesar-te os ombros com nuvens
e o vento descarnará os teus cabelos ainda antes
de vindimares o verão. Depois habitares ao pé
desses galhos secos, perdido, alheio e triste
entre as pequenas rugas dos teus dias.
Transpõe as portas do frio outono apenas quando
todas as uvas tiverem amadurecido nos teus lábios.
terça-feira, 26 de novembro de 2024
domingo, 24 de novembro de 2024
sábado, 23 de novembro de 2024
A Deflexão da Luz nos Teus Olhos
Bebo ainda do azul que tu
és de um modo diário
repartido pelos minutos
quase comensal
como se mergulhasse todas
as tardes no mar
com o teu nome nos pulsos
duas mãos cheias de sol
e o teorema do poema
perfeito
Mas enquanto nado para
longe de ti
o recorte do verso que
comigo fende a água
traz inscritas as rugas
desse sorriso
que penúltimas ondas
ofertam às sílabas
Também nisso estamos
juntos - a deflexão da luz
nos teus olhos é
simétrica do meu cansaço ao nadar
Paulo Ramalho,
in Órbitas Elípticas em Torno do Silêncio, apresentação na Livraria
Letras Lavadas, dia 22 de Novembro de 2024.
terça-feira, 19 de novembro de 2024
Santo Amaro Sobre o Mar
domingo, 17 de novembro de 2024
Hadsel: Lugares Aonde Ir
Hadsel é, por isso, um álbum de recolhimento, à semelhança de uma doença que se instala e que necessitamos de tempo para o recobro, repouso, retiro. Tempo necessário para que que possamos voltar a estar connosco afastados do mundo e dos outros. É, pois, um álbum de incursão na interioridade e nessa forma particular de insularidade nortenha. E é nisso que “Hadsel” surpreende, por ser de facto um mergulho na vida insular norueguesa, naquela igreja com um órgão de fole, um harmónio que o ajudou a reconciliar-se…com a vida, connosco, com o mundo. A faixa “Island Life” é, evidentemente, o retrato mais puro desse retiro forçado que nos faz mergulhar nessa luz interior, no amor e na dor mais intensa. Esse lugar aonde ir.
sábado, 16 de novembro de 2024
quinta-feira, 14 de novembro de 2024
sábado, 9 de novembro de 2024
Transportes Públicos (II)
"Se pretende realizar uma viagem ao centro de Ribeira Grande, até ao centro da Lagoa não encontra carreiras diretas. O passageiro terá de ir a Ponta Delgada numa carreira, para depois apanhar outra carreira para a Lagoa, em empresas diferentes, o percurso poderá demorar cerca de uma hora. A qualidade dos transportes reflete "o estado" social, económico, cultural e ambiental de um território."
Maria Emanuel Albergaria, in Açoriano Oriental, 8 de Novembro de 2024.
O Fim de Um Amor de Rui Machado
Acontece quando tudo se espera: duas cadeiras vazias
Junto a uma lareira que ninguém aquece. E por isso
Inclino-me hoje especialmente para o silêncio
Mesmo que tenham ficado pequenas lembranças
Memórias que parecem coladas a alguma coisa
Como as gravuras inscritas nas pedras.
Se servimos para alguma coisa, para quê as mãos no fogo?
E se esticarmos a luz pela tarde para quê a sombra?
As circunstâncias foram como foram, umas urgentes
Outras carregadas de malas ou adiadas para nunca
Mas sempre excecionais na sua imperfeição. Entretanto
Escuta como se aquietou em mim o teu coração
Num diálogo atravessado por distâncias.
sexta-feira, 8 de novembro de 2024
Transportes Públicos
“O uso de transportes públicos tende a aumentar se houver redução de custos, melhorias na rede e qualidade do serviço, maior consciência ambiental e políticas públicas que o incentivem. (…) Quem vive nos Açores é obrigado a ter carro próprio se quiser trabalhar. Isso ou fica à mercê de horários e rotas anacrónicas que há décadas não servem a preços astronómicos. E, se há falta de motoristas para garantir o serviço, como também se ouve por aí, por que experimentar pagar-lhes melhor e não os explorar?”
António Lima, Açoriano Oriental, 7 de Novembro de 2024.
quarta-feira, 6 de novembro de 2024
"Três Haikais..." no Festival Curta Açores
20h30 no Ribeiragrandense |
Por fim, fica aqui esta “ode à comunidade da Ribeira Seca” e às suas gentes, dado que nunca teria sido possível filmar sem a colaboração daquela comunidade que habita naquela freguesia da Ribeira Grande. Por esse motivo, um especial agradecimento ao senhor Manuel Furtado, proprietário da Cervejaria do Areal, bem como ao Fernando Raposo e a sua família que, ao ceder as fotografias do seu álbum familiar, enriqueceu a perspectiva histórica de tão afamada capital do surf. Em boa verdade, este documentário, para além de dar conta da mudança a ter lugar na costa norte da ilha de São Miguel, pretende também fixar este encontro com os seus habitantes e suas memórias. Saibamos assim ser testemunhas deste momento de transição bem como portadores de um tempo novo que, por certo, chegará. Bom visionamento!
terça-feira, 5 de novembro de 2024
segunda-feira, 4 de novembro de 2024
Música para Recomendar Novembro
Agricultura
domingo, 3 de novembro de 2024
Sobreiro (Quercus suber)
As Coisas Fora do Lugar de José Alberto Oliveira
a boca desampara o segredo de um desejo
que o olhar nega; noites rasuradas,
que as coisas desejaram, por fora do lugar
comporem outra ordem que tememos.
sábado, 2 de novembro de 2024
Cerejeira (Prunus x Yedoensis)
Ilustração de Francisco Eduardo |
in "As Árvores Não Têm Pernas para Andar" de Joana Gama, ilustrações de Francisco Eduardo e música original de João Godinho.
sexta-feira, 1 de novembro de 2024
Astrakan 79: Entre a Memória e a Fábula
Fuso Insular: As Voltas da Memória!
Terminou
este domingo a 6ª edição do Fuso Insular no Centro de Artes Contemporâneas, na
Ribeira Grande. O fim de tarde de sábado serviu para mostrar os vídeos
realizados durante os três meses de verão na residência criativa, frequentada
por criadores a viver no arquipélago açoriano. No total, foram 7 os vídeos
apresentados, revelando cada um deles ansiedade em mostrar o resultado final neste
encontro anual no Centro de Artes contemporâneas.
À
pergunta: o que fazer durante o verão açoriano? Os participantes do Fuso
Insular, uma residência artística ligada às imagens em movimento, tiveram encontros
semanais, delinearam ideias e argumentos, conceberam guiões e passaram para a captação e recolha de
imagens e de sons. Tudo isto durante o abafadíssimo estio açoriano, com um
orçamento residual e sem grandes recursos ou meios técnicos. Após reunirem o
seu material e imagens, juntaram-nas e desataram a contar as suas histórias e
“narrativas visuais”. Qual é a novidade, então, do Fuso Insular? É, essencialmente, o
processo colaborativo entre os participantes e os formadores presentes,
designadamente: André Laranjinha, Rachel Korman e Catarina Mourão. O Centro de
Artes Contemporâneas cumpre aqui também uma das suas funções: promover e
difundir a realização de obras de arte de criativos residentes nos Açores. É dentro deste
esforço conjunto que se preparam estas apresentações públicas, realizando uma
sessão própria para a apresentação destes objetos artísticos ao público.
Assim, na tarde de sábado, dia 26,
foram sete as obras apresentadas, cerca de sessenta minutos no total, tendo a
sessão começado com o filme de Catarina Fernandes - “Ainda Bem que a Lua
Existe”, uma narrativa afetiva envolvendo a sua memória pessoal e a sua
ligação à mãe, um gesto de afeto carregado de sonhos, lembranças e canções
pessoais. Seguiu-se “O Lado Sombra”, de Sandra Medeiros, um objeto
fílmico sobre a invisibilidade, o reconhecimento de um corpo e das suas sombras, e ainda tudo o
que guardamos cá dentro e queremos ocultar, na realidade um trabalho intenso,
muito bem elaborado. Acompanhámos depois "Tudo Está em Tudo”, de
Maria Emanuel Albergaria e que nos trouxe a vida vegetal e o envelhecimento sob
a forma de cores fortes e intensas, vislumbrando a transformação que o tempo
exerce sobre a existência. Quanto ao filme “De Marfim, Com Amor”, de Ana
Cabral, este transporta-nos para um corpo de memórias fragmentadas, com objetos
herdados de avós que nunca conheceu, questionando o seu legado no presente, numa
visão final que comporta o regresso a uma lembrança uterina. Depois, seguiu-se a proposta do coletivo Atelineiras,
intitulado de “Ao Redor”, que consistiu na composição dum herbário
construído, a recolha de plantas existentes na paisagem açoriana, jogando
assim de forma dialética entre as “invasoras” e “endémicas”, como se as
palavras se pudessem encontrar o dentro e o fora dessa diversidade. Continuamos,
ainda, com “Migratórios”, Willian da Fonseca, um objeto que mergulha de filmar a travessia, a aventura migrante, ou a metáfora de uma imersão na liquidez e
magma insular, interrogando as memórias que as águas carregam e as formas de
nos relacionarmos com as misturas, o abraçar de novas crenças e fusões. A sessão
fechou com “Movimentos”, de Maria João Sousa, um exercício sobre as
deslocações humanas, podendo nós, espectadores, interpretar e decifrar os
seus movimentos, o seu rastro e lastro na atmosfera, no espaço e no tempo, num
registo bem-humorado.
Nota final ainda para referir que,
devido ao facto de estarmos perante uma residência criativa de curta duração, muitos dos
trabalhos do Fuso Insular revelam, na sua maioria, um pendor autobiográfico,
tendo muitos deles o território açoriano como denominador comum. São, pois,
raros os trabalhos ficcionais, ou de carácter etnográfico, muito embora seja
sempre entusiasmante assistir a cada conjunto destes filmes e percebermos o
quão diferentes somos na absorção desta nossa experiência insular.
"Partias o Mar aos Joelhos"*
Fotografia Ana Monteiro |
Podemos ser autênticos na análise, já que logramos acreditar na geografia, na história e no tempo longo que marca esta nossa ligação. Sabemos desde sempre da existência dessa paixão, muita dela transmitida pelos nossos progenitores, familiares, dado que foram eles que nos concederam esse legado, essa herança, numa transmissão feita de muitos temores, dores e sacrifícios até.
Crescemos também a pensar que podíamos ter uma relação mais suave, mais intensa e prazenteira nessa aproximação ao mar. Certo ainda é que vamos acumulando poemas, canções, filmes, e até mesmo peças de teatro ou romances que falam dessa força da natureza. Há também quem pense que essa paixão, ou melhor, esse amor, em termos artísticos, ainda não é suficiente. Será?
Ilhéus de António Cícero
imponderável como as nuvens,
e cair no dia feito um véu
ou a tampa de um ataúde.
e nada impede que se afundem
neo-atlânticas e arranha-céus
ou que nossas cidades-luzes
submersas se tornem mausoléus.
em arquipélagos, os ilhéus
pisarão ruínas ao lume
do mar, maravilhados e incréus
e devotados a insolúveis
questões, espuma, areia, fúteis
e ardentes caminhadas ao léu.
domingo, 27 de outubro de 2024
sábado, 26 de outubro de 2024
Artérias
Pelas artérias da cidade imagino o que se passa nas minhas.
segunda-feira, 21 de outubro de 2024
sábado, 19 de outubro de 2024
Vaivém de Naná da Ribeira Ribeira
se espera no mínimo
alguém que nos acompanhe
não tem subida
passa por nós e vai descer
espreita no início da tarde
o extenuante triunfo
deste teu vaivém diário
quando as palavras findam
e a esperança sucumbe
Turismo
Diogo Caetano, in"Os Transportes Públicos precisam de uma grande revolução", Açoriano Oriental, 19 de Outubro de 2024.
Barata
quinta-feira, 17 de outubro de 2024
Música para Folhas Caídas no Outono
Longest Days - Schock of Daylight, 1982 - The Sound
My Body Performs - Nonsuch, 1992 - XTC
Centro Di Gravità Permanente - La voce del padrone, 1981 - Franco Battiato
You and your Sister - Blood, 1991 - This Mortal Coil
Lucifernandis - As Plantas Que Curam, 2013 - Boogarins
Chover (Ou Invocação para um Dia Líquido) - Cordel do Fogo Encantado, 1999 - Cordel do Fogo Encantado
Na Baixa do Sapateiro - Live Montreux Jazz Festival, 1979 - Elis Regina
Blend - Party, 2017 - Aldous Harding
quarta-feira, 16 de outubro de 2024
Viver
Uma vez mais, era a sua vida. "
Philip Roth, in A Mancha Humana, Dom Quixote.2002.
terça-feira, 15 de outubro de 2024
Pif-Paf de Millor Fernandes
Poeminha sobre a vitória psicológica do robô
à tirania
do telefone. Tocava, tocava
e eu não atendia.
Mas o problema
é o resto do dia,
o pensamento constante:
«Quem seria?»
Millôr Fernandes, in Pif-Paf, Independente, Lisboa 2004.
Confissão de Naná da Ribeira
a vida é breve e é dura
a poesia é o farol e a chama
a querença do encontro
ainda que a habitação
-que palavra insuportável!
não caiba na quotidiana existência
de uma libélula!
segunda-feira, 7 de outubro de 2024
A Delicadeza de Serem Póstumos, os Diários
físicos (já o brilho que as recordações
da juventude conserva, lhe parece
insultuoso), para não falar dos contratempos
que supostamente formam um carácter.
até que a a convicção de incrédulos
e discípulos, por caminhos em que a lama
lhes garanta o desenho das pegadas,
resumindo tudo e mais o que é propriamente
a vida à invocação de um nome
em linhas de indice remissivo,
mais demoradas que o escárnio prometido
por todos que escarneceu. O amor
que esqueceu ou se esforçou por esquecer,
os locais mais pequenos resistem,
a crença de não ser a vida supérflua,
nem a arte irrepetível e outras
páginas de um diário,
que só a morte liberta, como liberta a alma.