sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Ilhéus de António Cícero

uma onda pode vir do céu,
imponderável como as nuvens,
e cair no dia feito um véu
ou a tampa de um ataúde.
e nada impede que se afundem
neo-atlânticas e arranha-céus
ou que nossas cidades-luzes
submersas se tornem mausoléus.
em arquipélagos, os ilhéus
pisarão ruínas ao lume
do mar, maravilhados e incréus
e devotados a insolúveis
questões, espuma, areia, fúteis
e ardentes caminhadas ao léu.
 
                in A Cidade e os Livros, Rio de Janeiro, Record, 2002

Sem comentários:

Enviar um comentário