segunda-feira, 21 de abril de 2014

Postal Pascal para Miriam Manaia

Querida Miriam,

Continua a invernia por aqui.
Descobri que no final do filme “E a tua Mãe Também” do Alfonso Cuáron está lá o“Watermelon on the Easter Hay”, do álbum "Joe´s Garage", de Frank Zappa, e por isso passei estas noites de frio e chuva a rever os créditos finais do filme para que a música se instale e contamine a atmosfera circundante. Passaram-se vinte anos sobre a estreia do filme do mexicano e em que também confessei a Mário Cesariny que ele era um dos maiores poetas portugueses, porventura também na melancia do feno da Páscoa. Em cima da mesa do meu escritório, para além de uma fotografia com a Miriam na Cave do Solar dos Manaias, tenho uma proposta de doutoramento:"Da melancolia ao renascimento: contributo filosófico de um funâmbulo para a construção de um eterno retorno". É uma singela proposta bem como uma ideia singular do velho amigo Santiago de Olissipo, há muito retirado, por desgaste e desconsolo, das lides académicas.
Gostaria muito de ter notícias vossas, alegremente,
Doutor Mara

2 comentários:

  1. O Prof. Doutor Conde Santiago de Olissipo retirou-se para os Mares do Sul, desde o final dos anos oitenta do século passado. Tal como muitos, perseguia o mito do Sul como símbolo do calor e da luz, da vida e do renascer do tempo. Cansado dos dias frios e chuvosos e das patadas e navalhadas nos corredores universitários, decidiu partir para a Oceania levando consigo apenas um exemplar da sua vasta biblioteca: "Argonatas do Pacífico Ocidental", do antropólogo Bronislaw Malinowski. Actualmente, dirige um pequeno museu em Kiriwina, a principal ilha do arquipélago Trobiand, na costa oriental da Papua Nova Guiné, dedicado ao antropólogo polaco e apoia jovens investigadores em Ciências Sociais que se deslocam ao local. Apesar dos anos e da longa distância, o nosso contacto nunca se perdeu e mantém-se regular. A cada dois meses, recebo longas cartas, com as últimas notícias do Sul. O Prof. Doutor Conde Santiago de Olissipo relatou-me que terá todo o prazer em orientar o doutoramento do Dr. Mara. Contudo, face à sua aversão às novas tecnologias e às redes sociais, o meu ilustre amigo terá que optar por uma das seguintes hipóteses: preparar-se para iniciar uma longa temporada missivística ou deslocar-se pessoalmente a Kiriwina. A não ser que queira comprar ayahuasca e tornar-se o primeiro doutorado por telepatia. Um abraço caloroso.

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  2. Ora viva,
    Emocionei-me quando soube do paradeiro do emérito Professor Doutor Conde Santiago, fascinante personalidade que me habituei a admirar nos serões da minha juventude, ainda sob o efeito da chaimite e de palavras de ordem. Podemos dizer hoje com toda a clareza: “E tudo Abril levou!”, pois terá sido dos poucos com o título de Conde que amou esta nossa vetusta República. É com muita pena que vejo que terei que renunciar esta proposta de doutoramento, já que neste “País engravatado todo o ano/ e a assoar-se na gravata por engano. (Alexandre O´Neill dixit) ” também eu, doutor desde tenra idade, terei muito provavelmente que emigrar…

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