domingo, 28 de agosto de 2016

Os Primeiros Quatro Poemas de Jorge Sousa Braga

Esse Verão

Vinha meio nu
Trazia uma cesta de vime cheia de amoras
que colhera nas margens do rio
Passara a tarde toda de silvado em silvado
Na sua mão direita um pequeno arranhão
-Tão quente tão quente
esse verão

«Acabei agora de comer
um campo de tulipas
Não sei o que fazer
com tanta beleza nas tripas»

Crepúsculo

Já ninguém percorre este caminho
a não ser dois petroleiros
com os porões vazios

Nuvens

Sinto-me como se vivesse dentro de uma nuvem. Branca. Fecho os
olhos e deixo-me arrastar. Pelo vento.

É imprevisível o destino de uma nuvem. Pode dar várias vezes a vol-
ta ao globo. Ou desfazer-se de encontro à montanha mais próxima.
Mas isso em nada parece afectá-las. Afectar-me.

Vivo dentro de uma nuvem. Cujo destino é vaguear. E cujos limites
é não haver limites. 

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