terça-feira, 26 de janeiro de 2016

O Quarteirão de PDL

               Uma ideia de um quarteirão citadino formado por quatro ruas - D`agoa, Pedro Homem, Carvalho Araújo e Guilherme Poças Falcão - relevantes do centro histórico de Ponta Delgada, caracterizado pelos limites do seu casario à escala humana, ainda por cima concentrando dentro de si locais de memória e do saber, tais como espaços museológicos, biblioteca e arquivo municipal, só poderá suscitar em nós curiosidade sobre o que se irá passar a seguir. Desta forma, se verificarmos que já existem galerias de arte, lojas de roupa, um jardim, um restaurante vegetariano, cafés, bares, hostels para diferentes gostos, vários supermercados, dentista, farmácia e cabeleireiro, tudo leva a crer que essa mesma ideia tem tudo para se desenvolver e sedimentar.
Senão, vejamos, nos últimos anos verificarmos que uma boa parte das cidades portuguesas foi surpreendida por um turismo aos magotes trazido pelas companhias de baixo custo e, em certa medida, pelo forte travão que a crise financeira imprimiu à construção civil e à especulação imobiliária, obrigando a uma reflexão séria dos poderes públicos sobre a desertificação dos centros históricos e a fraca densidade populacional daí decorrente. À medida que outros lugares habitacionais deram espaço a novas centralidades, os ditos centros históricos foram ficando degradados, negligenciados e sem influência perante outras forças económicas que emergiram em seu redor, condenando estes espaços a uma existência exânime, visitados somente pelo turismo apressado, sem qualquer vida dentro. O que fazer? Em primeiro lugar, perceber a dimensão e gravidade deste problema, compreender a origem e razões desse abandono, bem como o consequente desinteresse das populações pela vida nesses antigos locais, tentando captar e atrair de novo o pequeno comércio, fomentando a economia social e assumir a recuperação e requalificação arquitectónica entre mãos. Os arquitectos, no actual contexto deficitário e criativo da sua profissão, podem ser eles próprios os incentivadores e agitadores dessa renovação necessária. Como? Ao apresentarem, eles próprios, soluções e propostas aos donos de casas abandonadas ou degradadas, propondo e discutindo soluções estéticas que visem dignificar o conjunto e o casario deste quarteirão. A partir desse momento, podem e devem contar com os poderes públicos, também eles na vanguarda do interesse da revitalização do seu centro histórico.
             Se entendermos que uma cidade são as pessoas que lá vivem, os seus anseios e desejos, ainda o seu conjunto edificado e alargado de habitações, monumentos, igrejas, uma ideia de “quarteirão” no centro histórico de Ponta Delgada, parece-nos, sinceramente, uma ideia com asas e com energia para voar. É que quando olhamos em volta e vemos que estas ruas repletas de história, únicas pela sua arquitectura ao longo dos séculos, é fácil de constatar que poderão vir a ser novamente pólos de vida, trabalho e criatividade. Basta querer. Devemos, portanto, reflectir sobre o que queremos deste quarteirão e de que modo todos possamos granjear o céu e boa aventurança. Assim, teremos “Quarteirão”, certamente.

2 comentários:

  1. Very good. Pode-se partilhar na página d' O quarteirão?
    Então, vamo-nos encontrar para discutir o argumento que já tens pra o filme?

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  2. E outras reflexões surgirão certamente...prossigamos o périplo.
    Abraçada do Doutor.

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