não dá melancolia, é uma saudade concreta, nada tem de
nostalgia, ninguém se esquece de nada, a memória arrasta viagens, credos,
angústias, glórias, a nossa fatia de vida lembra-se com força para marcar a
fogo uma alegria inatingível e próxima como a fúria da água, tão distante como
os passos numa órbita à descoberta de uma vocação
não estamos por ordem, apenas somos diferentes, há lixo da
época ouro hoje, deitam-se fora coisas discretas da altura que agora nos deixam
a pele em arrepio, fica o pavio duro e rígido, nem na morte (ou muito menos na
morte) alguém é abstacto e até já nos esteja destinado o futuro
nada é impossível ou verosímil quando vem ter connosco sem
pedir licença ou fazer cerimónia, e o amor, o amor, a essência mais perene,
dura o que durar, para além de nós se lhe aprouver, somos apenas uma personagem
– entre milhões – atentos ao momento exacto da nossa voz, somos líricos, somos
tenazes, devemos louvar esse legado e bem querer-lhe.
nenhuma palavra ou imagem é definitiva, nenhum testemunho
desaparece, nenhum gesto passa por aqui em vão, o tempo tudo regista e só os
homens dão por isso. O mais frequente é o mundo alarve que nos cerca, alimenta
e devora, não nos dar muita importância e um dia nos vir buscar quando já não
estivermos à espera
nunca se diz adeus
Joaquim Castro Caldas in “Mágoa das Pedras”, Deriva Editora.
Sem comentários:
Enviar um comentário