como uma sombra
ou
talvez como um orquestro
que
estremece em todo o corpo
        Trepar
o silêncio
e
as jarras onde germinam
       palavras
intraduzíveis 
Descer
os jardins na fronteira 
         entre
a voz e a cidade 
       Trepar
as gargantas 
onde
o tempo germina 
na
confusão das folhas 
ou
as noites que se alongam 
na
neblina arrebatada dos ossos
Talvez
uma árvore que trepe
todo
o poema todos os degraus 
todo
o sangue toda a asma
As
palavras em todos os átomos 
todos
os isótopos possíveis 
Um
abismo repleto de artérias 
a
lucidez e a loucura pressentidas
-a
instintiva comorbidade da caneta
Um
poema que trepe a maresia 
                ou as algas 
inventando
a luz de um interlúdio
        contínuo no piano
Piano
que se reencontra com a ilha 
                    purificada 
      com a madrugada pulmonar
                 das sílabas 
                Um poema 
     que trepe todas as torres
       que contornam a culpa
       e
a inocência de deus
         Que
trepe o vento 
batendo
nas searas onde nasce 
o terno rosto da imortal mãe 
                  Um poema 
que
trepe as ervas brotadas
que
crescem em sua demência 
ao
redor da candura
onde
se duvida de um resto de orvalho
               Um poema 
                    isto é 
uma
casa triunfal que ascenda 
um
dardo de papel recortado de sentidos 
em
direcção aos astros 
                   isto é 
à
destruição de toda a memória
e
de todo o esquecimento. 
Leonardo in "Há-de Flutuar uma Cidade no Crepúsculo da Vida", Letras Lavadas. 
 
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