sábado, 19 de março de 2022

JSM: A Mesa Continuará Posta!

         

          Há quase trinta anos, andava eu pelo cineclube Octopus, na Póvoa de Varzim, sempre muito orgulhosos da exibição de Pasolini's e Tarkovsky's, quando apareceu disponível o belíssimo "Caro Diário", do Nanni Moretti. Lembrei-me, portanto, de arriscarmos uma sessão diferente e convidarmos o Jorge Silva Melo para vir à Póvoa falar sobre o filme. Surpreendentemente, ele não só veio como passei a ser para ele “o poveiro”, denominação que usava quando me encontrava pelas ruas de Lisboa. Creio que o Nanni Moretti iria ter adorado ter estado presente pois foram tantos os que ainda hoje se lembram do entusiasmo tal como pela obsessão do italiano em filmar-se a si próprio durante meses.
        Ainda a propósito dessa sessão “morettiana” de longa data, recordo-me de passarmos a tarde a conversar na biblioteca municipal, que ele adorou, e ainda de vermos o mar no Diana Bar, antes desta se tornar biblioteca balnear. A partir daquele momento e, durante anos, devorei os textos que o Jorge Silva Melo ia publicando na imprensa escrita. Primeiro no Combate, depois no Público, também no e onde fosse que ele escrevesse. Julgo que li mais o Jorge Silva Melo do que qualquer escritor, poeta ou filósofo. O Jorge Silva Melo respirava paixão e erudição em todos os parágrafos e cheguei a ver algumas peças em salas de teatro deste nosso país que ele gostava tanto de andar em digressão. Era maravilhoso ouvi-lo e lê-lo discorrer sobre cinema, teatro, belas artes ou literatura. Agora que o Jorge Silva Melo desapareceu a mesa continuará posta para continuarmos a dialogar sob a forma de palavras escritas em papéis. 

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