sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Poema de Joaquim Pessoa (3)

 Não sei como deveriam ser as coisas
Profundas como a sede de uma jóia ou
tão leves como nomeá-las simplesmente.
Mil milénios de feridas, mistérios e 
esplendor cabem devagar na fala. Tudo é
incalculável, a vida é incalculável, as
coisas serão a memória de si mesmas.
Existe tanta força no que não sabemos. É 
tão pobre a lembrança, vazia a luz das 
nossas mãos, sombria a superfície de todas
as vitórias. Que vale menos? O oiro
de cabeças sumptuosas ou os segredos
dos dias que se esgotam? O êxtase 
está em gastar a vida sem saber 
como deveriam ser as coisas. 

in "Por Outras Palavras", Litexa Editora, 1990.

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