“Raramente pensamos nisso, mas os
Açores são, porventura, o mais perfeito exemplo do resultado dos fluxos
migratórios. Nada é autóctone. Tudo veio de algum lado. É um primeiro ponto.
Antes
de haver Atlântico nem as ilhas existiam. Foi preciso e tem sido preciso haver
vulcões e erupções para aparecerem terras à superfície do oceano. Até
a própria lava migra das profundezas, se quisermos ver isso em termos poéticos,
misturando-se material magmático de anteriores erupções e criando, alterando,
acrescentando as ilhas e os seus territórios.
Quanto às plantas, mesmo as hoje
descritas como endémicas, resultaram essencialmente de sementes deixadas por
aves de arribação, e tudo se foi instalando, com tempo e vagar, acabando por
formar aquele ambiente que Gaspar Fructuoso refere como existente à data do
povoamento, nas suas “Saudades da Terra”.
Chegados os humanos e verificando que
frutas e cereais não existiam, coisa essencial à sua subsistência, toca de
plantar essas e outras novidades onde melhor lhes parecia. Primeiro foram
coisas do velho mundo, depois começaram a ser as que as viagens marítimas iam
tornando conhecidas, sempre de cada vez mais longe.”
Francisco Maduro Dias, in
“Sobre goiabas e migrações", Açoriano Oriental, 20 de Outubro de 2025.
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