terça-feira, 21 de outubro de 2025

Sobre Goiabas e Migrações

     “Raramente pensamos nisso, mas os Açores são, porventura, o mais perfeito exemplo do resultado dos fluxos migratórios. Nada é autóctone. Tudo veio de algum lado. É um primeiro ponto.
         Antes de haver Atlântico nem as ilhas existiam. Foi preciso e tem sido preciso haver vulcões e erupções para aparecerem terras à superfície do oceano. Até a própria lava migra das profundezas, se quisermos ver isso em termos poéticos, misturando-se material magmático de anteriores erupções e criando, alterando, acrescentando as ilhas e os seus territórios.
        Quanto às plantas, mesmo as hoje descritas como endémicas, resultaram essencialmente de sementes deixadas por aves de arribação, e tudo se foi instalando, com tempo e vagar, acabando por formar aquele ambiente que Gaspar Fructuoso refere como existente à data do povoamento, nas suas “Saudades da Terra”.
        Chegados os humanos e verificando que frutas e cereais não existiam, coisa essencial à sua subsistência, toca de plantar essas e outras novidades onde melhor lhes parecia. Primeiro foram coisas do velho mundo, depois começaram a ser as que as viagens marítimas iam tornando conhecidas, sempre de cada vez mais longe.”

Francisco Maduro Dias, in “Sobre goiabas e migrações", Açoriano Oriental, 20 de Outubro de 2025.

Sem comentários:

Enviar um comentário