quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

FACA: Extensão à Ilha de São Miguel


A FACA (Festa de Antropologia Cinema e Arte) abriu portas ontem, dia 16, no Centro de Actividades  Culturais do Nordeste, na Ilha de São Miguel e irá até ao dia 20 de Fevereiro. O certame abriu com a sala cheia do edifício inaugurado pela Câmara Municipal do Nordeste a 30 de Novembro de 1997 e andará espalhado por vários locais da Ilha (Rabo de Peixe, Ponta Delgada, Maia e Sete Cidades) nos próximos três dias. Um iniciativa de cinema e arte associada à disciplina dedicada à Antropologia Visual, promovida pelo CRIA-Centro em Rede de Investigação em Antropologia, sediada em Lisboa, e que se foi assim entendendo ao arquipélago dos Açores. Deste modo, abre caminho para uma maior divulgação e implantação nas ilhas açorianas contando a ilha de São Miguel com a colaboração da AJECTA (Agência para a Coesão Territorial) e do Museu Carlos Machado, parcerias que desta feita promovem e alargam a mostra a novos filmes e temáticas insulares, como são os casos de "Pão", de André Laranjinha e "Xailes Negros", de Zeca Medeiros.
          Sendo assim, os alunos da Escola Secundária do Nordeste puderam assistir em primeiro lugar a “Inoperável”, de Carolina Val-do-Rio, filme em formato muito curto sob a forma de manifesto relacionado com a operacionalidade do corpo na sua existência indefinível e respectivas representações sociais que cada cultura impõe, nem sempre fáceis de aceitar. Seguiu-se o filme "Wawata Topu", incursão de David Palazón e Enrique Alonso pelas "mulheres sereias timorenses", uma curiosa e atribulada viagem pelas pescadoras que vivem em Belois, na ilha de Timor Leste, dedicando-se estas, conjuntamente com os seus maridos e filhos, à luta pela sobrevivência e demais estratégias de como existir em meio hostil, permitindo este documentário atender à simples respiração de como os lugares nos condicionam e moldam a nossa humanidade e existência. A simples necessidade de troca dos peixes pescados por outros alimentos, essencialmente por arroz e café, bens essenciais à sobrevivência no mercado local, originam por isso uma luta quotidiana com a natureza de forma feroz e contínua.   
        Por último, esta pequena mostra terminou com um filme deveras inspirador sobre esse alimento do dia-a-dia e que tem, sem dúvida, uma importância primordial na nossa existência: o pão.  Sem carácter narrativo ou referencial, aborda todos os percursos que vai desde a semente ao forno, sobretudo todo o percurso até chegar às mesas, preocupado que está desde o início com a situação da chegada dos cereais – excelente plano inicial dos cargueiros que entram e fazem a descarga de cereais no porto de Ponta Delgada dirigidos à Moaçor, interrogando assim as razões que o tempo presente modificou, destinados que estamos a aceitar o momento em que estamos a viver, ignorando a possibilidade de uma catástrofe ou cataclismo. André Laranjinha realizou um filme em que arrisca tudo através da via do silêncio e da poesia, são poucos os depoimentos, não dá pistas sobre os intervenientes e lugares, sendo que é através das imagens de forma poética que nos introduz naquele universo, permitindo que observemos e contemplemos as suas linhas de orientação na consumação deste propósito. “Pão” é um belíssimo filme, elaborado sob diferentes camadas e sucessivos ingredientes até percebermos de forma clarividente o conteúdo e o miolo dos processos inerentes à chegada deste precioso alimento à mesa das nossas refeições ou casas. É bem provável que seja necessária uma padaria por perto após o visionamento deste filme tão sugestivo.

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