quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Raul Brandão e Domingos Rebelo: Pintores da Luz e da Cor


         

Ilustração de Mário Roberto
           Raul Brandão amarou nos Açores proveniente da origem, viajando de barco e, atrás de si, ficava a pátria republicana e essa Europa saída e fustigada pela primeira Grande Guerra. Dois anos depois do seu périplo pelo arquipélago, publicaria “As Ilhas Desconhecidas”. O jovem Domingos Rebelo retomava, à altura, a sua vivência na cidade de Ponta Delgada, organizando a sua própria exposição na Rua do Provedor com o título: “Exposição de Pintura Domingos Rebello”. O pintor micaelense acreditava no amor à sua terra natal, professando e valorizando o regionalismo e a cultura popular. O jornalista e escritor da Foz do Douro desconhecia, portanto, a potência da verdura aqui instalada, o encanto da luz, a demanda das cores presentes na natureza. Com o seu relato sentimental das “Ilhas Desconhecidas”, aproximou o continente às ilhas e a todos os que se deixaram fascinar pelas suas notas e paisagens do arquipélago ignoto, cumprindo a narração intima de cada ínsula, o deslumbramento visível a meio do oceano atlântico.
           Por aqui, na Ilha de São Miguel, Domingos Rebelo, dedicava-se de corpo e alma aos pincéis, forçando as linhas e os traços ao entardecer, tingindo telas pela noite dentro. Asceta e com o corpo exausto de tanto colorir rostos, delinear pessoas, abarcar a vida que discorria à sua frente, regressou a Lisboa alguns anos mais tarde. À semelhança de Raul Brandão, gostava de ser cúmplice da paisagem açoriana e da luz que o rodeava, ambos sustentavam um especial apego pela terra que pisavam, exaltando profissões e todos aqueles que nelas trabalhavam. Eram, sobretudo, crentes de uma força maior, possuíam, por isso, fé nos homens e na vida. Foram incansáveis viajantes, contemplaram o mundo físico, trabalhadores tenazes e observadores inquietos da vida dos outros ao mesmo tempo que intervinham no tempo e na sociedade que lhes calhou em sorte viver. Ambos necessitavam confirmar a leveza e a urgência da arte. Eram cultos, exigentes, e herdeiros de uma tradição humanista. Cada um à sua maneira, forjou um imaginário, cumpriu um sonho, arriscou ir mais além na missão de viver uma renascença, alcançar um sentimento de pertença, acrescentar um fulgor novo. Domingos Rebelo, jovem, e, Raul Brandão, maduro, cobriram de luz e de cor um país e ilhas que sempre se quiseram sombrios, toscos, pesados. A idade tinha vinte e quatro anos a separá-los. No primeiro quartel do século passado ninguém melhor do que eles  soube “pintar” as paisagens humana e natural do continente e das ilhas. Devemos aos dois essa evocação e o sentimento vital do gigantesco legado que nos deixaram. Agradecidos, continuaremos!

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