quarta-feira, 9 de março de 2016

Fellini e Nino Rota

"A minha preferência por Nino Rota como compositor deriva do facto de ele me parecer muito próximo dos meus temas e das minhas histórias e por trabalharmos muito bem em conjunto. Não me refiro ao resultado, mas à forma como trabalhamos. Não me compete sugerir-lhe ideias musicais, porque não sou compositor. No entanto, como tenho ideias muito claras sobre o filme que estou a fazer, incluindo os pormenores, o meu trabalho com Rota faz-se exactamente da mesma maneira que a elaboração do argumento. Fico ao pé do piano a que Nino está sentado e digo-lhe exactamente o que quero. Claro que não lhe dito os temas, só posso guiá-lo e dizer-lhe aquilo que estava à procura. Na minha opinião, Rota é o mais humilde dos compositores que trabalham no cinema, porque compõe uma música extremamente funcional. Não tem a presunção de muitos outros compositores, que querem que as suas músicas sejam ouvidas nos filmes. Sabe que a música de filmes é uma coisa marginal e secundária, que não pode ocupar o primeiro plano, excepto em raríssimos momentos, e que, em geral, se deve contentar em apoiar o resto do que vai acontecendo." 


in “Fellini conta Fellini”, Livraria Bertrand, Tradução de Maria Dulce e Salvato Teles Meneses, 1974.

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