terça-feira, 13 de março de 2018

Arco 8: Pista para um Dj Mara (do)


A música está no sangue, o seu vigor, encanto, energia e ritmo. Ouvi-la, querer partilhá-la com os outros. Outros românticos que cultivam o gozo, a seiva, o prazer pelos sons, instrumentos e vozes. São sons diversos, palavras e ritmos oriundos de geografias, por vezes próximas, outras bem remotas. Música com ânimo, génio e gente dentro. Respira-se, por instantes, a fúria dos desalinhados, a fulgência dos candeeiros nocturnos, pressentem-se os gritos e as exclamações de liberdade, estique-se a corda pela batida, arriscam-se passos de dança inusitados e comete-se também o desplante de combinar sonoridades que não lembram a ninguém, tão pouco ao próprio que elege o cardume sonoro. Resulta? Esperemos mais um pouco, a pista vai abrir. Aguente-se a investida, permita-se mais um devaneio e procure-se a comunhão com o que é raro, o difícil, isto é, encontrem-se cúmplices para a grande viagem musical da noite que se segue. Não é certo que chegaremos a porto seguro, alguém soa o toque dos transatlânticos e dá-se o pontapé de saída com a memória daquele músico apaixonado da guitarra. E, ao que tudo parece indicar, ninguém fica para trás ou de fora deste navio carregado de tesouros e surpresas. É música para um serão tardio e o que virá a seguir ninguém sabe, sendo certo que aquele meliante dos sons irá desafiar as convenções do mandarinato dos tocadores de música...
O que faz de nós amantes de música generosa e benigna? Querer ouvi-la bem alto, se possível, até raiar o vermelho, dançá-la, erguê-la numa taça e oferecê-la de bandeja a quem quiser, servir de transporte para esses situação de puro desvairo e deleite, desejo por abrir-se de forma porosa à decantação musical e, à semelhança de um bom vinho, degustá-lo e saboreá-lo na perspectiva de que é desta que está reunida a melhor colheita.
Convenhamos, por tudo isto que se passou já bem de madrugada, seria útil recordar que neste agrupamento sonoro houve elementos musicais muito díspares ligados pelo fio condutor daquela galeria, membranas dum corpo estranho à solta, que vai desde a pop britânica dos Shed Seven, Franz Ferdinand, Dans Le Sac Vs Scroobius, Memorie Tapes, Tindersticks até  aos portugueses Miguel Guia & Tó Ricciardi, Linda Martini, O´rquestrada, Galundum Galandaina, Bandarra, Gaiteiros de Lisboa, passando pela música cigana, marroquina, maliana, cabo-verdiana, angolana, argentina, brasileira, senegalesa, etc. Enfim, um oceano de portos e embarcações que confluem, melhor dizendo, navegam com se fossem uma paleta sonora diversa e variada. Uma rota com ondas e marés que se exploram, um suave cheirinho do que foi a influência das estações de rádio dos loucos anos oitenta e noventa na cabeça de um adolescente da província que continua a  gostar de escutar e sentir a música.

PS-Os respectivos agradecimentos ao Pedro Bento por ser, mais uma vez, um mecenas/apoiante da diversidade das espécies, um real protector das Espécies Musicais Raras ou em vias de extinção. 

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