terça-feira, 25 de junho de 2019

Da Reescrita

«Quando comecei a escrever nos jornais em 1975, tinha 19 anos, entregava um texto e era tudo traçado, lido por duas ou três pessoas. o (Fernando) Assis Pacheco e outros, que diziam, “Isto não dá”. Era tudo reescrito. Olhava e dizia: “Não escrevi esta merda.” Mas era tão bom.  Percebíamos que não sabíamos escrever. Eu ainda não sabia. Esse processo de rejeição é muito bom. Assim é que se aprende a escrever. Hoje ninguém é pago, publicam tudo. Escreve-se uma coisa e sai logo, no blogue ou noutro sítio qualquer. Ninguém tem tempo para rever, para mandar reescrever, para dizer: “Isto tem de ser reescrito.” No Jornal de Letras era assim: “Isto não está capaz, tens de reescrever.”»
       
Entrevista de Bárbara Reis a Miguel Esteves Cardoso, a propósito do livro – “No Passado e no Futuro Estamos Todos Mortos”, Porto Editora, 2019.

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