terça-feira, 12 de março de 2024

Da Leitura

“Na verdade, quem defende esta nova forma de ignorância agressiva de deslumbramento tecnológico não são os novos ignorantes, mas antigos ignorantes, a quem as redes sociais dão uma ilusão de igualdade e uma presunção de saber que transporta todos os preconceitos da ignorância com o ressentimento em relação ao saber e ao esforço de saber. São a forma actual de anti-intelectualismo travestido de modernidade, cujos estragos na educação, no jornalismo, na sociedade, na cultura e na política são devastadores. E, para utilizar uma expressão comum, podem ter a certeza de que ser ignorante agressivo é das coisas menos sexy que há.
           Para além desta nova forma de pobreza, se lhe tiramos o futebol e o Big Brother, o mundo deve ser muito baço. É que ler é entrar em todos os mundos, alegres e sinistros, apaziguadores e violentos, nossos e alheios, e que nunca acabam. No arquivo Ephemera sabemos bem isso, porque cada biblioteca que nos é oferecida tem o retrato do seu doador e por isso não são só livros, mas vidas. Por exemplo, num conjunto de livros oferecidos por Luísa Costa Gomes, havia várias edições dos clássicos gregos e latinos. A gente, sim a gente, pega num e não larga. Pode-se ler todo ou abrir numa página qualquer e depois passar para outra, ou para a capa, e mesmo que já se tenha lido, há ali uma força inicial, que vem das primeiras palavras da nossa civilização.”

Pacheco Pereira, in “Porque é que ler conta, e muito, para a liberdade”, no Jornal Público, sábado, 9 de Março de 2024.

sábado, 9 de março de 2024

Da Excepção e a Regra de Bertolt Brecht

Vou  contar-vos 
A história de uma viagem. Fazem-na 
Um explorador e dois explorados
Observem com atenção o comportamento desta gente
Estranhem-no ainda que não seja estranho.
Não aceitem, ainda que normal. Ainda que
não o compreendam,  que seja a regra
Desconfiem da mais pequena das ações
Daquela aparentemente insignificante! Tentem perceber                                                                                                                               se é necessário
Sobretudo o que é mais comum
E por favor não achem natural
Aquilo que sempre acontece!
Que seja pois tido por natural
Nestes tempos sombrios de caos sangrento
De desordem ordenada, de arbitrariedade planeada
de humanidade desumanizada, para que 
Nada seja imutável
Tradução de José Vieira Mendes

quarta-feira, 6 de março de 2024

Ilustração de Emese Bándi

TEA
(CamelIa Sinensis)
 


No 34ºAniversário do Jornal Público...

 


      “Todos os homens são diferentes uns dos outros e as mulheres também são, e durante muito tempo isso não aconteceu. Os homens eram diferentes uns dos outros, mas as mulheres eram todas iguaizinhas."




Maria Velho da Costa, terça-feira, 5 de Março de 2024

Falando de Epifenómenos...

     
          
           "Surpresa das eleições de 1985, é um partido que junta sindicalistas e gente da CIP, novembristas de 1975 agora afastados dos comandos militares, desgarrados de todos os partidos, que gera esperança no PCP e confrontos noutros lados de esquerda. Acabou de realizar o seu congresso. Mas ninguém sabe o que quer o PRD."


in Jornal Combate, Novembro de 1986.

domingo, 3 de março de 2024

Música Pré-Eleitoral

Sun Forest - Ghosteen, 2019 - Nick Cave 
Ideologie - Talking with Taxman About Poetry, 2006 - Billy Bragg
Cançoneta do Forte e Fraquinho - A Dúvida Soberana, 2021 - Zeca Medeiros 
Desde las Alturas - Desde las Alturas, 2020 - Guitarricadelfuente 
Mentira - Clandestino, 1998 - Manu Chao 
All My Happiness is Gone - Drag City, 2019 - Purple Mountains 
As Mesmas Coisas - Uma Tarde na Fruteira, 2007 - Júpiter Maçã
Basbaque - Basbaque, 2018 - WE SEA
Alma não Tem Cor - Aos Vivos, 1995 - Chico César 
Tentas Tanto - Sara Cruz, 2015 - Sara Cruz
Valsa Quase depressiva - Exílio, 2004 - Quinteto Tati
The Dolphins - Freid Neil, 1966 - Fred Neil

Pano para Mangas (VI)

Tânia Neves dos Santos
 

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Março Marçagão...

Mova Dreva de Katerina L´Dokova
Festival Prolíficas 2024
Vamos entrar em Março, terceiro mês do ano, período ainda de muitas dúvidas quanto ao aquecimento corporal e com um provérbio martelado na mente: “Março, marçagão, manhã de Inverno, tarde de Verão e à noite focinho de cão”. Como será o Março deste ano? Que temperaturas e ventos teremos? Será um Março agreste ou sereno no que às oscilações climatéricas se refere?!  Que dias pré-primaveris podemos esperar?
          Eis, assim, que Fevereiro, um mês de pavio muito curto, se despede. E, como foi bom em termos musicais, auspicioso e fugaz, já que recentemente ouvimos a Sara Cruz e a Marianna em cantorias crescentes com vista para o mar e lua cheia, ouvimos estas cantoras açorianas no andar de cima do Centro de Artes Contemporâneas – Arquipélago, ambas por ali à cata e à descoberta do seu lugar no mundo das canções. Duas cantautoras, portanto, convidadas que foram deste festival de mulheres compositoras, criativas e 
prolíficas que encheram o Arquipélago no fim de tarde de sábado para ouvir as suas canções, já que no domingo escutámos a Diana Botelho tocar ao piano peças de Ana Paula Andrade, Ângela da Ponte, Constança Capdeville e Teresa Gentil. Pelo meio, apreciámos a instalação “vibrante” de Ângela da Ponte em exposição e audição, numa composição que contou com a colaboração na sua materialização do mestre António da Ponte. E, por último, o concerto do fecho com Katerina L´Dokova, mostrando as canções do seu álbum Mova Dreva, naquele seu périplo de sonoridades tradicionais da Bielorrússia, misturando roupagens do jazz com outras derivações clássicas e contemporâneas. Um fim de semana, portanto, recheado de sonoridades no feminino que releva com suma importância a existência de dias claros e harmónicos para enfrentar o Inverno derradeiro que se avizinha.

Música Para um Março Pardo e Venturoso

 -Vens ou Ficas - Ombro, 2024 - Malva
-J´Arrive J´Arrive, 1968 - Jacques Brel
-IdeologiaIdeologia, 1988, - Cazuza
-Águas de Março - Elis, 1972 - Elis Regina
-Primavera O Sol Voltou, 2019 - Luís Severo
-Les Anarchistes - Les anarchistes, 1969 - Leo Ferré
-Uma Coisa Linda de Morrer Prelúdio, 2023 - Filipe Furtado Trio
-Our House The Rise & Fall,  1982 - The Madness
-LukaSolitude Standing, 1987 - Suzanne Vega
-Galgar - Sol de Março, 2018 - Medeiros & Lucas
-Exodus - Atlas, 2024 - Três Tristes Tigres

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

O TREMOR Regressa em Março!

O Tremor regressa às ruas e aos palcos da ilha de São Miguel entre os dias 19 e 23 de Março. Entretanto, passaram dez anos após a primeira edição e, nesse sentido, invade-nos por isso uma nostalgia neste momento de data redonda. Uma década depois já não há espaços como a Travessa dos Artistas, na Travessa dos Henriques, o Arco 8, em Santa Clara, ou mesmo a Tascá, na rua de Lisboa. O aluguel das casas no centro de Ponta Delgada regista preços astronómicos e comer uma sandes de atum com sementes de sésamo tornou-se numa espera descomunal e um aparato cénico destinado a hordas de turistas leitores de panfletos turísticos. Saudades, assim, do outro tempo mas felizes pelo regresso anual deste tão apregoado e engordado certame musical que não pára de crescer. 
         Desta feita, o Tremor continua alegremente o seu percurso ascendente e, para já, promete “41 artistas de geografias diversas”, afirmando-se presentemente como o grande evento musical do arquipélago. Continua, assim, a desbravar espaços e arriscar concertos, audições e  parcerias dignos de entusiasmo e atenção. Ao longo dos últimos anos foi criando ramificações e comparência na Ribeira Grande, ocupando a blackbox do Centro de Artes, Arquipélago, a sala principal do Teatro Ribeiragrandense ou o interior do Mercado Municipal para incluir muita da sua programação. Curiosamente, este ano há menos Ribeira Grande e mais Rabo de Peixe, valha-nos isso! Que seja grande a festa como sempre!