Fotografia de Tânia Neves dos Santos |
Esta
data do 25 de Abril de 1974 é um momento fundacional da democracia portuguesa.
“Vem aí os canhões” ouvia-se na rua enquanto se encostavam as bicicletas à
parede e se bebia um pirolito ou se comia um gelado, que não era mais do que um pau de gelo com açúcar. À rua, onde
brincávamos, começaram a aportar meninas e meninos que os nossos país apelidavam de
“retornados”, e que aos nossos olhos traziam o colorido e alegria na roupa, o
açúcar e a fantasia no linguajar, a leveza nos modos e trejeitos. A seguir, em
casa, aparecia a televisão a preto e branco, os jornais e os livros do “Círculo de Leitores” ou das bibliotecas da
Gulbenkian. No entanto, a música que saía dos transístores e das cantorias parecia triste, demasiado triste. Às vezes havia festas, romarias, procissões e futebol
ao domingo à tarde com chapéus de papel na cabeça. Namorar, cortejar e ir à
praia fazia-se sempre com culpa, com medo e receio da opinião dos outros. Uma
coisa é certa: passaram-se muitos anos e os canhões não vieram, ainda que a evocação destes povoassem durante muito tempo as brincadeiras de rua. A democracia, essa, continua…