domingo, 3 de junho de 2018

Tempo, Conversa, Trabalho e Hesitações

           
Sítio da Bertrand
              «O encenador, dramaturgo e ator Jorge Silva Melo tem mais reservas em relação ao estado da escrita para teatro em Portugal. "De vez em quando surge um autor, há uma peça. Quase nunca volta a ser feita. Faz cinco, dez, três representações . Viram-na os 20 amigos e os 130 adversários. E sumiu-se." Silva Melo assume que, infelizmente, tem visto poucos textos portugueses representados e que, a seu ver, "as mais recentes produções "inovadoras" são aquelas em que o dispositivo cénico comanda a criação das palavras, como se fazia na Alemanha dos anos 90...e aqui agora é dogma". Entre os autores portugueses destaca  os "casos singulares" de Tiago Rodrigues e de Gonçalo Waddington. Faz, no entanto, um comentário: "Ainda os sinto muito presos a um teatro do comentário "que ameaça transformar-se num teatro girando sobre si próprio." "Mas conheço mal", admite. Existe um ambiente teatral-cultural que motive para a escrita de peças e favoreça o surgimento de novos dramaturgos? A resposta é esta: "Não. O trabalho é lento. E trabalhar na formação de um autor, como o fiz em relação ao José Maria Vieira Mendes, exige um horizonte temporal seguro. Não é com festivais, workshops, eventos e estreias, que lá se chega. É com tempo, conversa, trabalho e hesitações. E muita conversa. A correr ninguém chega lá."»


Nuno Costa Santos in "Escrever e editar Teatro em Portugal", Revista Ler, 2018.