quarta-feira, 14 de junho de 2017

A Ilha que nos Circunda

Fotografia de Carlos Olyviera 
A luz dos dias está agora maior e avistam-se os alvos garajaus em pleno voo, essas atrevidas e delicadas andorinhas do mar que retomam o lugar que lhes é devido no instável céu açoriano. E, agora que se tornou impossível permanecer dentro de casa, seria o tempo de apostar em sessões nocturnas de cinema italiano, com o actor napolitano Totó à cabeça, acreditando em noites de cinema ao ar livre, atordoados pela ausência de vento e a subida da humidade, mas com a companhia da argúcia e do humor das comédias e o brilho de uma época mágica e inventiva, onde tudo era possível. Como seria interessante todos ali concentrados a imaginar outros momentos, outros lugares, mesmo outras vidas e até mesmo a ligeireza de quem gostaríamos de ter conhecido e admirado de perto. Estes seriam os Verões de cinema que tardam em regressar às ilhas e hão-de, portanto, despontar a qualquer momento, contrariando assim estas preguiçosas cigarras que olvidam a alegria de outros tempos, tentando convencer-nos que todos adormecemos a horas certas e que nos confortamos e conformamos com festas e romarias iguais em todo o lado. Foram, sim, estas histórias que ouvimos na Lagoa da última semana, ainda com a memória de outro passado, não muito distante, a partir do ensejo de um homem bom e culto (Francisco d´Amaral Almeida) que projectou e edificou uma sala de cinema na sua ilha mas que durante o período da canícula tudo fazia para que as pessoas permanecessem ao ar livre desfrutando da noite e do luar, quando o clima assim o permitia, promovendo e divulgando a sétima arte,  as imagens em movimento, absorvendo as histórias, até que a vontade de dormir e descansar acontecesse…

Erasmus: 30 anos!

Imagem da Wikipédia


        Há mais de vinte anos fiz Erasmus na cidade grega de Salónica. Da Grécia moderna, pouco sabia e lembro-me de não conseguir ler uma única coisa que fosse à chegada a Atenas, a capital. Foi uma experiência única e vivida de forma intensa e que ia muito para além das trocas universitárias e do programa de estudos aí existentes,  num projecto de intercâmbio desenvolvido ao longo de onze meses. Por isso, facilmente se aprendem línguas, conhece-se e viaja-se bastante dentro e fora do país em que se está a estudar, experienciam-se hábitos, costumes,  cultura e gostos alimentares de um país diferente do nosso, contacta-se com a história e a arquitectura do país em que se está tal como se fazem amigos e demais conhecimentos que perdurarão ao longo de toda a vida. Ainda hoje há uma coisa que posso e devo garantir aos que duvidam do projecto europeu - o melhor da União Europeia passa evidentemente por esta ideia de intercâmbio e partilha de saber. Há por aqui alguém que nos possa contrariar?

...

a água desenha coisas
no meu coração
dado a xícaras

a pratos velhos

Ana Paula Inácio, ANÓNIMOS DO SÉCULO XXI, Averno, 2016.

Ontem, escrito numa parede da cidade

Nunca mais olharei as nuvens da mesma maneira