Fotografia de Carlos Olyviera |
A luz dos dias está agora maior e
avistam-se os alvos garajaus em pleno voo, essas atrevidas e delicadas andorinhas do mar que retomam o lugar que lhes é devido no instável céu açoriano. E, agora que se tornou impossível permanecer dentro de casa,
seria o tempo de apostar em sessões nocturnas de cinema italiano, com o actor
napolitano Totó à cabeça, acreditando em noites de cinema ao ar livre, atordoados
pela ausência de vento e a subida da humidade, mas com a companhia da argúcia e
do humor das comédias e o brilho de uma época mágica e inventiva, onde tudo era possível.
Como seria interessante todos ali concentrados a imaginar outros momentos, outros
lugares, mesmo outras vidas e até mesmo a ligeireza de quem gostaríamos de ter
conhecido e admirado de perto. Estes seriam os Verões de cinema que tardam em regressar às ilhas e hão-de, portanto,
despontar a qualquer momento, contrariando assim estas preguiçosas cigarras que olvidam a alegria de outros tempos, tentando
convencer-nos que todos adormecemos a horas certas e que nos confortamos e conformamos com festas e romarias iguais em todo o lado. Foram,
sim, estas histórias que ouvimos na Lagoa da última semana, ainda com a memória de
outro passado, não muito distante, a partir do ensejo de um homem bom e culto (Francisco d´Amaral Almeida) que projectou e edificou uma sala de cinema na sua ilha mas que durante o período da canícula tudo fazia para que as pessoas permanecessem
ao ar livre desfrutando da noite e do luar, quando o clima assim o permitia, promovendo e divulgando a sétima arte, as imagens em movimento, absorvendo as histórias, até que a vontade de dormir e descansar acontecesse…