segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Açores: Atlântico Azul

No “Inverno Quente” deste Agosto chegam boas notícias sobre objetos artísticos que tem como tema central o mar e os pescadores. Raul Brandão, autor de “Os Pescadores” e "As Ilhas Desconhecidas”, “pintou” como só ele soube o azul do atlântico no seu bulício e transformação. O escritor, natural da foz do Douro, narrou a vida dos homens do mar de norte a sul do país ao mesmo tempo que descobria as ilhas atlânticas que, aos seus olhos, lhe eram desconhecidas.
              Deste modo, as obras atrás referidas de Raul Brandão serviram de mote e inspiração para o documentário “Hálito Azul”, realizado por Rodrigo Areias com argumento de Eduardo Brito, rodado junto da comunidade de pescadores da Ribeira Quente, Ilha de São Miguel, com estreia marcada nos Açores no dia 20 de Setembro, pelas 21h00, na Igreja daquela freguesia. Recorde-se que o filme teve uma primeira exibição no Festival de Locarno, na Suíça, tendo sido a sua primeira apresentação pública na edição do festival Porto/Post/Doc em Novembro último, seguindo-se vária exibições em concurso dos mais diversos festivais, onde obteve aí dois curiosos prémios: Prémio Especial do Júri (Ismaília Film Festival, no Egipto) e o Prémio Melhor Documentário (Pristina Film Festival, no Kosovo).  
               Atente-se, assim, a outro projecto relacionado com mar, as ilhas e os pescadores, denominado de “Atlântico”, pertença do artista multimédia, Helder Luís, actualmente em residência artística na cidade de Póvoa de Varzim.  O resultado deste labor documental surge no seguimento da instalação MAR que esteve em Serralves e que dará lugar à publicação de vários livros e demais exposições. Actualmente encontra-se em exibição "Atlântico", numa das salas do museu municipal, um conjunto de fotografias e vídeo que documentam uma viagem começou na Póvoa de Varzim e terminou em Ponta Delgada, tendo depois existido uma outra saída para a pesca. Helder Luís acompanhou a tripulação da embarcação açoriana “Íris do Mar”, documentando a actividade piscatória nos seus gestos, vivência e modos, servindo-se da fotografia, do vídeo e ainda da música. Desta feita, “Atlântico” evidencia uma vontade de dar a conhecer as artes de pesca praticadas no arquipélago, registando a energia e a vitalidade da força de trabalho de um grupo de pescadores, curiosamente oriundos de diferentes comunidades e nacionalidades, reflexo de um mundo laboral em transformação.
Celebre-se, pois, quase um século depois da publicação destas duas obras de Raul Brandão, o empenho e esforço dos criativos portugueses em colocar a centelha piscatória e do mar na ordem do dia, atribuindo o destaque e atenção mais do que merecidas.