sexta-feira, 9 de maio de 2014

Europa.

          Duas décadas depois de ter feito Erasmus na cidade grega de Salónica, regressam agora as eleições europeias. Hoje, dia da Europa, é verdade que muitos de nós continuamos sem saber muito bem o que é exactamente a União Europeia.
          Naquela altura, vivia-se um período de desafogo e euforia económica e a Grécia, o berço da civilização, permitia corroborar que a Europa enquanto conjugação de várias culturas era per si uma construção frágil. Não é fácil, por mais que se queira, juntar italianos com suecos, portugueses com alemães, espanhóis com holandeses, ainda por cima tripulantes da mesma galera e que a viagem corra às mil maravilhas. No entanto, é possível com algum sonho e utopia construir uma ideal de democracia que nos permita sair do ancestral estado bélico e da contínua atracção pela barbárie, bem como montar a paz por muito tempo e ainda que possamos alargar o campo de possibilidades de uma sociedade mais justa, democrática e solidária.
           Algum tempo depois desse ideal sonhado não há presentemente muito para celebrar. O desemprego é a face da moeda mais visível desse desencontro  e o medo de viver em democracia tornou-se uma realidade das sociedades contemporâneas, a acrescentar à contínua anulação das diferenças e formas de estar de países com fraco poder económico. É tempo, portanto, para evocar a experiência Erasmus e essa utopia da união das diferenças e de aceitação pelo ritmo e cultura de cada comunidade e país. Foi assim uma experiência única e vivida de forma intensa e que foi muito além das trocas universitárias e do programa de estudos aí existente. Talvez  por isso, aprenderam-se línguas, viajou-se bastante dentro e fora do país em que se esteve, conheceram-se os hábitos e os gostos alimentares de um país diferente do nosso, contactou-se com a história e a cultura de um outro país bem como se fizeram amigos e conhecimentos que perdurarão ao longo da vida. Uma coisa é possível garantir: o melhor da União Europeia passou por aquele projecto em construção e pela sua ideia de miragem sem grandes imposições. O Erasmus era a união das diferenças e não o domínio e a imposição  de uns sobre outros. Ainda restam dúvidas sobre isso?

As Nuvens, as Nuvens...

Fotografia: FN
Não sabemos nunca o que dizer sobre nuvens. Há quem já tenha escrito que as Nuvens Não Precisam de Almofadas. Gostamos delas quando se mexem, quando se agitam, quando brincam no céu como crianças no recreio. Gostamos menos quando ficam paradas, quando se instalam, quando zangadas para nós olham sem saber o que dizer. Muito cinzentas sabemos que mais cedo ou mais tarde irão chorar. A maior parte das vezes somos impacientes com elas, rogamos-lhes pragas, fazemos preces para que passem e nem sempre sabemos o que fazer com elas em dias felizes, a não ser que procuremos nas gavetas poemas que não sabemos muito que direcção, rumo ou orientação lhes dar, certamente depois de descobrirmos que afinal o seu instrumento de medição de velocidade e destino já ter sido inventado há muito, muito tempo: “Na rua do inventor do Nefoscópio/ incide amplo e plúmbeo amplexo/ pesadas nuvens em inusitado branco/ luz rala em cinzento desfeita/ frenética oposição à precisão/ arremessar a manhã ao sol de Maio/ devolvendo o algodão à superfície/"