Fotografia de Carlos Olyveira |
“No seu amplo interior, o Coliseu
Micaelense teve a colaboração de dois grandes artistas micaelenses: o escultor
Canto da Maia, no friso escultórico por cima do boca-de-cena, e Domingos
Rebelo, que pintou o pano-de-boca. Mas, podemos ainda referir outros edifícios
que foram construindo, como o destacado edifício dos Armazéns Cogumbreiro,
mandado edificar em 1913 pelo Sr. José de Medeiros Cogumbreiro para o comércio
de vários tipos, coisa absolutamente inovadora na cidade e à imagem dos
armazéns da Metrópole.
Serão
de mencionar alguns dos edifícios que emolduram a praça do centro da cidade: o
edifício do Banco de Portugal, o edifício que alberga a firma Azevedo e
Companhia, o edifício do antigo Banco Micaelense e, na Rua dos Mercadores, um
bem proporcionado edifício que o sr. Luís Maria Aguiar mandou construir, bem
como outros edifícios dignos de menção em várias zonas do centro histórico da
cidade. Destacaremos ainda o edifício da Sociedade Corretora, rua Hintze
Ribeiro, que exibe uma fachada austera e de largas fenestrações, onde creio notarem-se
influências da arquitectura industrial dos países do norte da Europa, para onde
se exportavam os ananases que a firma comercializava.
Todos estes edifícios evidenciam
uma arquitectura híbrida, com influências da arquitectura urbana do Continente
português, em feição simplificada, todavia, com uma decoração curiosa e
amaneirada, que transporta um gosto peculiar, nomeadamente nas molduras e
ornamentos das fachadas.
As fachadas possuem amplas
janelas e portadas com molduras em relevo, executadas quase sempre com reboco
de cimento e barro, excluindo a tradicional pedra de basalto, tomando uma
acentuada dimensão vertical, permitindo maior iluminação e ventilação para os
aposentos.
Um outro aspeto muito curioso no
detalhe construtivo das fachadas de alguns edifícios dessa época é o
aparecimento de varandas concebidas em ferro forjado, que, ao que se sabe,
foram produzidas na fundição da Calheta, um edifício fabril que ainda hoje e já
abandonado ostenta uma grande chaminé da caldeira em forma de pirâmide
octogonal, uma silhueta imponente ladeada por uma alta chaminé de pedra.
A estrutura e as guardas das
varandas que ornamentam muitas das edificações habitacionais em Ponta Delgada
apresentam desenhos trabalhados ao sabor do gosto da época, de elaborada
composição decorativa.
Estas varandas, tão peculiares, existem
mesmo em edifícios habitacionais modestos, mas também em outros de grande
porte, como é o caso do edifício dos Marqueses da Praia, na Rua Marquês da Praia
e Monfort.”
António Eduardo Soares de Sousa, in A Arquitectura Urbana em
Ponta Delgada – Finais do Século XIX começos do Século XX, organização e
revisão José Ferreira de Almeida.