terça-feira, 5 de abril de 2016

Fazendo 105

Ler aqui: https://issuu.com/fazendofazendo
    
        Lídia Pombo afirma na mais recente edição do FAZENDO (105 números, que orgulho!) que o aparecimento do Novo Grémio pelo Teatro de Giz nasceu de um desejo: “um desejo de criar um espaço de partilha, que fazia falta – quanta falta!”. E é também este FAZENDO desejante que nos faz tanta falta. Nesta edição de Abril do jornal, desenhado pela Raquel Vila Arisa, a paginação da Susana Salema e também do Tomás Melo, conta com uma excelsa capa da autoria da Marina Ladreiro. Os temas versam a actividade cultural existente no arquipélago, com textos ligados à ciência, ao teatro, à música, ao cinema, à gastronomia, ao desenho, continuando a insistir (e muito bem!) no seu Fazendinho, ainda que desta vez sem o já habitual REBUS, para além de outros assuntos e temáticas. Dever-se-á, entretanto, dedicar uma especial atenção ao artigo de João Venceslau, conceituado crítico da nossa praça, a propósito das rotundas do além. Diz ele a determinada altura do seu pensamento avançado: "E assim nasceu uma rotunda, por causa de um poste, por causa da tomada de posse do senhor presidente." Será? Boas iluminações!

À Grande e à Portuguesa

       Gosto muito pouco dos meus contemporâneos quando pensam em grande, de forma descomunal, mania das grandezas, agindo depois de maneira desproporcional. Pensam e pensaram sempre muito alto, das cidades às artes, pensam sempre desmedidos, à patrão, como se costuma dizer. Cresci com estes meus contemporâneos a dar cabo lentamente dum país à beira mar plantado, primeiro com mamarrachos, rotundas, estádios de futebol, centros culturais e outros colossos de um país pobre, mas com ideias arrancadas à força ao primeiro mundo e agora confundidos com as estatísticas realistas do terceiro-mundo. E assim calados e aluados, silenciosamente, nos penitenciamos. Acobardamo-nos. E eu também sem o querer, porque fiquei afastado, também me sinto culpado. Foram prédios à beira-mar fora de escala, escolas de grande dimensão em que se misturam grandes com miúdos, edifícios faraónicos, rotundas sem pompa nem circunstância, urbanidade sem calma nem paciência, centros históricos arrasados e destruídos. Deste caldo cultural, gerado pelo novo-riquismo e o mau gosto, veio a prepotência, a arrogância, a incultura. E, claro, muita, muita parolice. E fomos todos, sem excepção, lentamente, perdendo a paciência. Prefiro, por isso, ainda hoje os que correm devagarinho,  os corredores de fundo em vez dos exibicionistas dos cem metros, ainda que muitas vezes pequenos, sem armar ao pingarelho, discretos, fazedores do seu percurso habitual e natural, descansando, por vezes, até caírem para o lado. E não muitas vezes sem holofotes, sem apoios, patrocínios ou foguetes. Não desarmam, aguentam, levam a água ao seu moinho. É por estes que eu hoje me quero bater, estar ao lado, ser cúmplice. Aqueles que, cultivando e lavrando o seu pequeno terreno, dão sinais dos melhores frutos, de brotar a melhor flor. Ah...raios e coriscos. Corajosos. Dão sinais de um tempo outro por vir.