sexta-feira, 2 de junho de 2017

Sala de Embarque: Ensaiar!

Fotografia de Carlos Olyveira

Frota Branca

Passavam entre seis a oito meses nos mares da Terra Nova, uma boa parte do tempo enfiados em pequenas dóris, possuíam uma hierarquia a bordo e só comiam carne uma vez por semana, sendo que nos restantes dias da semana alimentavam-se de bacalhau. Eram, maioritariamente, jovens, sendo certo que a partir dos anos sessenta alguns escapavam/desertavam ao serviço militar obrigatório,  à guerra do Ultramar, deixando para trás filhos e família. Estes pescadores eram oriundos dos bairros ou ilhas piscatórias das cidades costeiras portuguesas, pobres, portanto. Houve quem chegasse a fazer dez, ou até mesmo vinte campanhas, tal como o açoriano de rosto duro e tisnado, que se encontra à frente do quadro “A Família Piscatória”, obra icónica de Domingos Rebêlo. Houve mesmo quem avistasse baleias ao lado dos seus pequenos botes ou quem se tivesse perdido naqueles nevoeiros cerrados junto de icebergs, já para não falar dos que por lá ficaram esquecidos e enterrados para não corar de vergonha o regime. O Museu Marítimo de Ílhavo tem sido incansável no resgate dessa memória e dessa incrível epopeia, sendo transversal a uma boa parte do século vinte português. E, só por isso, aqui ficam estes parágrafos em forma de evocação e agradecimento. 
Imagem do Museu Marítimo de Ílhavo