sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Da Pulcra Existência

          A faca que corta dá golpe sem dor…descobrir prováveis hipóteses e mesmo assim não detectar seja o que for. Ter o receptor pronto, iniciar o caminho das trevas, mover todos os propósitos e nada alcançar. Ter a sensibilidade pronta para captar a mais provável das suspeitas e admitir que o que vier a seguir é uma mera possibilidade. Esta é a circunstância de nada conseguir saber, ter a cabeça a prémio, juntar peça por peça e lentamente desconfiar do que foi feito. Vivemos ambos sobre ruínas e em breve também este tempo findará. Por isso há cada vez mais desmoronamentos, sobressaltos, mais devastação em redor. Reconhecemo-nos, no entanto, nessa dimensão da esperança, a tensão do encontro, a surpresa da coincidência ou da pulcritude simples. Convém, portanto, manter a curiosidade, a leveza e o desapego, desprovidos de cobiças e apegos vãos. Se no final de um dia, soubermos pronunciar as palavras que em nós pulsam com maior veemência, talvez encontremos aquilo que nos descerra e nos prende, aquilo que nos liga e deslaça, aquilo nos dá vida e nos mata.

Um olhar...

Marine Vacht actriz de "Jeune et Jolie" de
François Ozon (no papel de Isabelle).

Flor no Pântano, Luz nas Catacumbas.


         "Flor no pântano, luz nas catacumbas" escreveu Vitorino Nemésio sobre a obra de Raul Brandão. Curiosa expressão ouvida pelo boca do doutor Machado Pires, especialista na obra do escritor da foz do Douro e que não se importa, até concorda ser boa ideia, este ter escrito sempre o mesmo livro. Brandão e Nemésio viajaram - ainda que por motivos diferentes- tal como travaram conhecimento na viagem que deu origem ao livro "As Ilhas Desconhecidas". Brandão tinha 52 anos e Nemésio 22. Desconfia-se assim que o "Corsário das Ilhas" terá nascido dessa vontade diarística. O que é certo é que, tanto um como outro, escreveram essencialmente sobre a passagem do tempo. E o que escreveram é, ainda hoje, tão relevante de ler.