A faca que corta dá golpe sem dor…descobrir prováveis hipóteses e
mesmo assim não detectar seja o que for. Ter o receptor pronto, iniciar o caminho das trevas, mover todos os propósitos e nada alcançar. Ter a
sensibilidade pronta para captar a mais provável das suspeitas e admitir que o
que vier a seguir é uma mera possibilidade. Esta é a circunstância de nada
conseguir saber, ter a cabeça a prémio, juntar peça por peça e lentamente
desconfiar do que foi feito. Vivemos ambos sobre ruínas e em breve também este
tempo findará. Por isso há cada vez mais desmoronamentos, sobressaltos, mais
devastação em redor. Reconhecemo-nos, no entanto, nessa dimensão da esperança, a tensão do encontro, a surpresa da coincidência ou da pulcritude simples. Convém, portanto, manter
a curiosidade, a leveza e o desapego, desprovidos de cobiças e apegos vãos. Se
no final de um dia, soubermos pronunciar as palavras que em nós pulsam com maior
veemência, talvez encontremos aquilo que nos descerra e nos prende, aquilo que
nos liga e deslaça, aquilo nos dá vida e nos mata.
sexta-feira, 15 de novembro de 2013
Flor no Pântano, Luz nas Catacumbas.
"Flor no pântano, luz nas catacumbas" escreveu Vitorino Nemésio sobre a obra de Raul Brandão. Curiosa expressão ouvida pelo boca do doutor Machado Pires, especialista na obra do escritor da foz do Douro e que não se importa, até concorda ser boa ideia, este ter escrito sempre o mesmo livro. Brandão e Nemésio viajaram - ainda que por motivos diferentes- tal como travaram conhecimento na viagem que deu origem ao livro "As Ilhas Desconhecidas". Brandão tinha 52 anos e Nemésio 22. Desconfia-se assim que o "Corsário das Ilhas" terá nascido dessa vontade diarística. O que é certo é que, tanto um como outro, escreveram essencialmente sobre a passagem do tempo. E o que escreveram é, ainda hoje, tão relevante de ler.
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