A actriz Cirila Bossuet |
Deve
ter mais de vinte anos a representação pela companhia A Escola da Noite de “Pranto”, de Gil Vicente, materializada naquele típico ensejo de modernidade
e arrojo da encenação da companhia coimbrã. E, ainda na memória, aquele final em
que a personagem caída no estrado é depois transportada para fora do palco acompanhada
pelo tema “Atmosphere”, dos Joy Divison.
Regressamos, pois, novamente a esta peça e texto teatral quinhentista pela mão da encenação de Miguel Fragata e pela representação da actriz Cirila Bossuet. Este "Pranto de Maria Parda" evoca esse ano vicentino de cariz maléfico e devastador, permitindo encarnar a mágoa e desolação existente numa mulher alcoólica, das margens, pautada por uma assombração sanitária (pandemia), à semelhança do período que nos encontramos todos a viver. Maria Parda simbolizava, tal como nos dias de hoje, os excluídos e invisíveis que continuam emudecidos em determinadas franjas sociais.
Os espectadores que se sentaram no palco do Teatro Micaelense foram de imediato surpreendidos por aquele cubículo de cortinados brancos, num cenário com maquetes subtis e propensas às propostas de alteração e marcas do tempo histórico. A encenação socorreu-se também de imagens e sons da actualidade para acentuar a transformação social e arquitetónica que agora decorre. É que cinco séculos depois, a Lisboa da gentrificação e turistificação de 2021 quis dizer presente, pressentida e exponenciada nos temas ritmados e combativos de Capicua e de Chullage. O resto e, não foi pouco, coube ao poder vocal, energia representativa e beleza oratória de Cirila Bossuet. Qualquer amante da língua portuguesa contrariou a lei de Mafamede e celebrou embriagado o linguajar solto e delicioso desta Maria Parda que persiste em continuar viva! Bela peça!
Regressamos, pois, novamente a esta peça e texto teatral quinhentista pela mão da encenação de Miguel Fragata e pela representação da actriz Cirila Bossuet. Este "Pranto de Maria Parda" evoca esse ano vicentino de cariz maléfico e devastador, permitindo encarnar a mágoa e desolação existente numa mulher alcoólica, das margens, pautada por uma assombração sanitária (pandemia), à semelhança do período que nos encontramos todos a viver. Maria Parda simbolizava, tal como nos dias de hoje, os excluídos e invisíveis que continuam emudecidos em determinadas franjas sociais.
Os espectadores que se sentaram no palco do Teatro Micaelense foram de imediato surpreendidos por aquele cubículo de cortinados brancos, num cenário com maquetes subtis e propensas às propostas de alteração e marcas do tempo histórico. A encenação socorreu-se também de imagens e sons da actualidade para acentuar a transformação social e arquitetónica que agora decorre. É que cinco séculos depois, a Lisboa da gentrificação e turistificação de 2021 quis dizer presente, pressentida e exponenciada nos temas ritmados e combativos de Capicua e de Chullage. O resto e, não foi pouco, coube ao poder vocal, energia representativa e beleza oratória de Cirila Bossuet. Qualquer amante da língua portuguesa contrariou a lei de Mafamede e celebrou embriagado o linguajar solto e delicioso desta Maria Parda que persiste em continuar viva! Bela peça!