segunda-feira, 15 de junho de 2015

À Tardinha com a Veja e o Vejo...

Vejo: Boa tarde, bons olhos te vejam. Como vais?
Veja: Bem, obrigado e abrigada como deves imaginar.
Vejo: O que fizeste hoje?
Veja: Hoje desenhei vários percursos, delineei rotas dos meus dias futuros, pintei-me de várias cores e nadei junto de várias rochas.
Vejo: Daí te apelidarem de papagaio?
Veja: Sim. Prefiro papagaio a Sparisoma Cretense, nome científico, mas como fêmea sou bastante 
colorida.
Vejo: Tiveste um dia cansativo?
Veja: Sim, bastante. Agora vou procurar águas profundas, nadar um pouco…viajar de olhos bem abertos.
Vejo: Já vi que és contemplativa, observadora?
Veja: Certo. Sabes que tenho que fazer jus ao meu nome.
Vejo: Contaram-me que nem à noite fecham os olhos, permanecem em estado letárgico, adormecem de olhos abertos, ainda que sempre atentas.
Veja: Dormimos bem lá no fundo, mas estamos sempre alerta. Temos uma película que nos ajuda a camuflar dos potenciais predadores, confiamos tanto na camuflagem que nos podem tocar enquanto dormimos sem acordar.
Vejo: O que costumam fazer no verão?
Veja: Vamos preparar as nossas famílias futuras, essencialmente em Agosto e Setembro aumentamos de número, ainda que depois gostemos de viajar com um grupo de seis.
Vejo: Constato que agora te encontras sozinha.
Veja: É por pouco tempo…vou já embora.
Vejo: Como gostaria de ir contigo…
Veja: Outro dia. Prefiro viajar sozinha para depois contar o que me aconteceu. Há muito que me encontro a nadar junto das rochas em busca de algas e invertebrados. É altura de procurar outras águas…outros mares.
Vejo: Vejo que sim. Boa viagem.
Veja: Até mais ver.
Vejo: Assim seja. Gostei de te ver. 

Marujo

Dão, Dão
Triste vida a do marujo
Qual delas a mais cansada
Por mor da triste soldada
Às tempestades! Às tempestades!
Dão, Dão.
Andar à chuva e aos ventos
Quer de verão, quer de inverno
Parece o próprio inferno
Às tempestades! Às tempestades
Dão, Dão.
Passam-se dias inteiros
Sem se poder cozinhar
Nem tão pouco mal assar
Nossas comidas! Nossas comidas!
Dão! Dão!
E quando mestre de estribe
Dizendo desta maneira
Moço ferra subideira
Ao joanete, ao joanete
Dão, dão.
Tão bem prega seu falsete
Por não mais poder gritar
Cada qual ao seu lugar
Até ver isto, até ver isto.
Dão, Dão.
Dão, Dão.
Lembrar-me certas senhoras
Com quem me dava em terra
Agora me fazem guerra
Ao meu dinheiro, ao meu dinheiro.
Dão, Dão.
Quem aumentou esta cantiga
Foi um pobre marinheiro
Toda a vida embarcado
Sem ter dinheiro,
Dão, Dão.

Tema popular florentino pertencente ao Cancioneiro Açoriano, recriado por Carlinhos Medeiros in Cantar Na M´Incomoda, 1998.