sexta-feira, 6 de abril de 2018

(...)

eu quero que fiques neste lugar onde nos deixam
ser árvore, sob a copa do verão, fica comigo, sem
nunca teres ido embora, puxa as águas para trás,
enxuga-lhes a sombra afiada, as palavras que
descuidámos, por não podarmos a música, fica
comigo, oh, fica nesta hora imensa, com a alegria
da maré baixa, e as portas abertas, sem medo da
corrente, no ar que sempre arrefece, as larguras
do amor, oh fica connosco, se nunca deixámos de
ser o mesmo sonho, jurado na fotografia líquida
sem margens para descair, se foi contra o sol que
se virou, a ver se media o tempo, que sempre nos
resta para começarmos a viver.

Daniel Gonçalves, inédito com a Rhianna.

O que me vale

O que me vale aos fins de semana 
é o teu amor provinciano e bom
para ele compro bombons 
para ele compro bananas
para o teu amor teu amon
tu tankamon meu amor
para o teu amor tu te inflamas
oh o teu amor não tem com
plicações viva aragon
morram as repartições


Manuel António Pina

Honestidade

Frequentemente,
a única coisa que a preocupava
era tentar não esconder a ignorância.
Preferia assumi-la, olhos nos olhos,
como quem levanta a saia para mostrar
que, por debaixo, e à parte das cuecas, é
igual às outras. Exactamente.
Mais pelo menos pelo, mais dobra menos dobra,
mais uso ou menos uso.

Madalena Castro Campos in "O Fardo do Homem Branco", Companhia das Ilhas, 2013.