Ontem
começou o Tremor. É já a quinta edição. O primeiro dia teve lugar no Teatro
Micaelense com a apresentação do festival pela organização, entidades públicas e demais promotores.
A sala encontrava-se cheia de residentes e forasteiros para ver “Levantados do
Chão”, esta primeira proposta realizou-se sob o signo do cinema e da música, onde
vimos o fotógrafo Daniel Blaufucks juntar-se à Banda Lira das Sete Cidades para
(des) alinhar a imagem mais o som na despedida do Hotel Monte Palace nas Sete Cidades. O autor não quis denominar de filme,
ainda bem, pois as ditas “fotografias expandidas” valem pela ideia da ruína dum
tempo em que só a natureza o altera. Os textos presentes nos créditos finais
enunciam, portanto, uma visão do mundo que permanece e que, passados tantos
séculos depois do povoamento, nada parece ter realmente mudado. As ruínas, a
paisagem, o esmaecer das cores daquele edifício confirmam um "fazedor de imagens" de olhos
bem abertos e ouvidos à escuta. Ali, sim, é a natureza que nos invade. No entanto, a duração deste propósito revelado pareceu-nos longo quanto à sua duração bem como a imagem
assíncrona da banda com a imagem nem sempre resulte. Na parte de cima do teatro, retomar-se-ia a mistura com os músicos Rafael Carvalho, mestre na viola de dois corações, e Flip, amante dos sons electrónicos e experimentador, a esgrimir argumentos num diálogo sonoro imprevisto, evidenciando uma postura ambiciosa para uma proposta embrionária que ainda pode vir a dar frutos.
Por
último, no já mítico Auditório Camões, o concerto dos regressados Três Tristes
Tigres para dar conta do seu rock electrónico, com pendor na guitarra de Alexandre
Soares (que garra e energia voltar a escutá-lo!) e a voz de Ana Deus, a relembrar temas de “Partes
Sensíveis” (1993), “Guia Espiritual” (1996), "Comum" (1998) e "Visita de Estudo" (2001). Do álbum “Partes Sensíveis” recordaram-se canções como “Letra Morta” ou “Descapotável”,
de “Comum” houve “Combat” ou “Motim” e ainda “Anormal”, “Kainever”, “Olho da Rua”, do
álbum Guia Espiritual, onde não existiu lugar para o popular “Zap Canal”.
Hoje, quarta-feira, o tremor musical continuará, ao todo são cinco dias e trinta e
nove concertos espalhados pelos sítios mais inusitados e inesperados desta ilha
no meio do Atlântico.