terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

"Breve" de Rui Costa

Esta manhã comecei a esquecer-me de ti.
Acordei mais cedo que nos outros dias
e com o mesmo sono.
A tua boca dizia-me "bom dia" mas não:
não o teu corpo todo como nos outros dias.
As sombras por aqui são lentas e hoje não
comprei o jornal: o mundo que se ocupe da
sua própria melancolia.
ontem. há uma semana. há muitos meses.
um ano ensina ao coração o novo ofício:
a vida toda eu hei-de esquecer-me de ti.

in "A Nuvem Prateada das Pessoas Graves", Quasi Edições, Maio de 2005.

O Impensável ( 1 ano depois)

Capa do Libération
(25 de Fevereiro de 2022)