"A minha mãe gostava muito do mar
e levava-me até lá quando era pequeno. As minhas primeiras recordações são de
caminhar à beira-mar com os meus amigos conversando sobre os primeiros
encantamentos amorosos. Nós, enquanto espécie humana, vimos do mar, aprendemos
a nadar antes de andar, nas águas da mãe onde somos feitos. Somos feitos de
água em 70 por cento. (…) Mas para mim o mar é outra coisa. É o mar da posição
horizontal, não da luta para dominá-lo, mas ao contrário, para se abandonar. É
o mar da felicidade. É por isso que o mar está indissociavelmente ligado ao
amor, a Eros. Para mim, era inconcebível o amor sem o mar. O mar está também na
história da minha vida, das paisagens e do amor, isto é, desse grande abandono
nos braços da vida. Sem luta. Nado muito mas isso não tem nada a ver com o
desporto, não, não, é realmente abandonar-se em grandes braços amorosos."
Claude Magris, in Ler, Dezembro de 2013.