“Apesar de não serem, entendidos de
forma literal, poemas do lugar, são poemas marcados, inevitavelmente, pelo lugar.
Quero dizer, são poemas de mim no lugar, poemas da maneira que são porque eu
era daquela maneira ao estar ali. Afinal de contas, não se pode fugir disto:
somos o que somos, e fazemos o que fazemos, também por causa dos lugares que
habitamos. Cada um a seu modo, tal qual como a uva da vinha, somos frutos de um
terroir (risos). Um Pouco da Alma não seria o que é, ou talvez nem sequer
existisse, em parte ou no todo, se não fosse a experiência de viver aqui, na
cidade da Horta e na ilha do Faial. Seja pelo ritmo ou pela respiração, seja
por aquilo que é dito ou por aquilo que é somente insinuado, este livro tem,
inevitavelmente, a marca do lugar. Isto apesar de evitar os localismos. Não se trata
de uma questão de escolha, mas de um processo natural. Vivemos em lugares e
neles é que respiramos e o vento nos sopra no rosto, ou não é assim?”
Entrevista a Rui Machado, Tribuna das Ilhas, Maio de 2023.