domingo, 12 de novembro de 2023

Festival O Mundo Aqui: Dá-lhe Corda!

     
                É uma festa que acontece todos os anos em Novembro e junta gente de muitas proveniências num único espaço: Multiusos das Portas do Mar. Há comida, artesanato, artes visuais e muita música para absorver num espaço de dois dias. Aqui dá para saborear as comidas e bebidas dos países de gentes que vivem e trabalham por cá - cachupa, muamba de galinha, feijoada, tacos, chamuça, ou beber um grogue, provar uma caipirinha ou degustar uma sobremesa como o bolo de coco ou cenoura, esteios de uma gastronomia variada.  Dois dias, assim, para degustar os sabores da mistura, ou simplesmente, reconhecer a nossa história comum, as diferenças que permanecem e que podiam progredir para conceber e aceitar, portanto, um património cultural conjunto.
           Desta feita, a noite de sexta-feira trouxe dois mundos próximos ainda que distintos no universo da música tocada por cordas, tendo o serão iniciado com o Trio Origens e o seu reportório cada vez mais variado, persistindo (e bem!) no cancioneiro açoriano e arriscando cada vez mais num conjunto de temas originais assentes na tradição e possibilidades da viola dos dois corações, aqui adicionando um violino. Estão de parabéns César e Rafael Carvalho e Carolina Constância. De seguida, amarou o músico gambiano, Mbye Ebrima, oito anos depois da sua primeira apresentação em São Miguel na Academia das Artes neste Festival “O Mundo Aqui”, organizado pela AIPA (Associação de Imigrantes  nos Açores).  Os sons extraídos da kora de Mbye Ebrima, sempre com o seu sorriso e o seu porte e altura de tal figura esfíngica, são hipnóticos e funcionam como mantras de apelos à paz e ao amor. Na noite de sábado, a banda de Leo da Luz & Banda, de origem cabo-verdiana, soube aquecer o público e preparar o espaço e a mente para as danças aconchegantes e o canto cálido e exuberante de Don Kikas, num regresso aguardado à ilha onde viveu. Esta é, pois, a mistura que nos une, não a guerra, a cultura de que as artes da gastronomia e da música são férteis, algo que nos fecunda na esperança de um mundo outro, onde seja possível a diferença e a diversidade.

Ontem, escrito numa parede da cidade

O polvo veio comer-me à mão