segunda-feira, 6 de maio de 2013

Não!


Cinco poemas de Maio

Medo

O nó desviado no estômago de vidro
A secura de um lábio afugentado pelo cair da tarde
Fuga de qualquer lembrança no início de Janeiro

Beleza

Memórias dos dias infantis à varanda
A luz na transparência do vestido
Lume brando no decote da madrugada

Desamor

Como facas que gritam enfurecidas
Rochas esbatidas pelas vagas
O pio calado dos pássaros à beira-mar

Velhice

O espelho rompe pela temperatura
Face antes vagamente jovem
Cai pela ruga a passagem do tempo
A água esgota-se na saudade

Aborrecimento

Escondo o presente e não sei
É hora e não vou a tempo de arriscar
Permaneço e assim por aqui me aborreço

Horta, Angra, Ponta Delgada...

Eu descia pelos portos à procura
das cidades marítimas. Marés violentas
batiam as enseadas; às vezes sentava-me nos botes
conversando com os agrários do mar. E diziam-me:
Há três cidades à beira-naufrágio,
e muitas outras sem rosto nem memória
E nomeavam: Horta, Angra, Ponta Delgada
e arregaçavam mais as calças, os pescadores de algas
e silêncio. Retirava deles a lição do mergulho, retribuindo
com bagaço  e cigarros. Crescia barco rumo às ilhas
de oeste.

Santos Barros in (Sequência de poemas “Os Alicates do Tempo”, )