Excertos de uma entrevista da actriz Beatriz Batarda a Lúcia Crespo no suplemento Weekend
do Jornal de Negócios, no dia 24 de Janeiro de 2014:
|
Beatriz Batarda em "Quaresma" de José Álvaro de Morais |
I
“Por vezes, sinto uma certa indecisão na forma de estar do portugueses,
se devemos ser activos no desenhar do caminho do país ou apenas seguirmos, numa
posição demissionária e ausente, responsabilizando os governantes e
desconsiderando o poder individual. Eu tento participar, dentro daquilo que é o
meu espaço e a minha limitação, no desenho daquilo que pode ser o futuro. A
verdade é que não sei muito mais do que isto. Tenho, desde que me lembro,
dedicado a vida à representação, à arte de contar histórias, e também ao
ensino, esperando poder contribuir para a passagem de um testemunho.”
II
“Não sei qual o caminho futuro que nos propõem ao sujeitarem-nos a
tanto sofrimento. Seria muito injusto culparmos a geração dos nossos pais, mas
não podemos deixar de pensar que eles são, de certa forma, responsáveis, porque
nos foram passando o seu próprio desencanto.”
III
“A cultura, por exemplo, é um dos espaços mais humanos e democráticos a
partir do qual pode nascer a reflexão e diálogo, por ser interior, por ser
íntimo. Às vezes, a vida corre e não nos permite fazer esse exercício do
espelho, e a cultura devolve-nos esse momento. Não é, como disse, uma função
moralizante, nem tão pouco pedagógica, mas é a de criar espaço de diálogo. A
ausência, o vazio, o silêncio – que eu espero que não venha a acontecer de uma
forma definitiva - é de facto uma perda grave para todos os portugueses. Acho
legítimo dizer que a nossa sanidade está em risco."