O verão, finalmente, regressou. A água
salgada entretanto aqueceu e com as temperaturas mais quentes regressam também as
águas vivas, esses seres indesejados que marcam de rubro a pele dos mais
incautos. Há tanta humidade na época estival que repetimos os mesmos chavões
sobre o ir a banhos, os requebros físicos e a necessidade de refrescar o corpo
e a mente, o desligar do cérebro por momentos. Ler? Nem pensar ou então
aqueles livros de capa grossa que sacodem bem a areia. Para lá de tudo isso,
temos refrões de canções menores na
cabeça, aceitamos com bonomia a época da parvoeira (os britânicos apelidam de sily season), que de tão habituados que
estamos evocamos por entre as conversas, o canto dos grilos e das cigarras, a melancia,
os gelados, os chinelos que calçamos. Atento
entretanto na tez grande que a rapariga ostenta, em noite de festa da cidade e
bailarico popular, exibe um vestido preto com flores garridas. Deve ser assim o
estio no país dela: flores coloridas, música festiva e alegria à beira-mar.
Esta é a estação das estações, como diria o alemão Goethe, por isso queremos
sempre ficar.
Somos o país com mais emigrantes na União
Europeia. Este país é uma lágrima permanente. Ouço de novo a rapariga estrangeira
que fala um português escorreito e perceptível, há tão pouco tempo aqui
connosco e eu só tenho vontade de dizer que este país é para chorar. E que
gostamos mais dele quando estamos fora ou temos que partir para outro país para
ganhar aí a vida. Eu sei que não devia,
mas estremeço de emoção de cada vez que tenho que apanhar um avião, sempre que
deixo um lugar e vou em direcção de outro. Deixo o meu quarto, mais uma casa (em
quantas casas já vivi???) a certeza de que que não serei o único a mudar. Digo,
portanto, adeus às minhas coisas, aos lugares onde dormi e às pessoas que
conheci. Interrompo entretanto as conversas com os amigos e as amigas com quem
conversei, relembro os momentos partilhados e peço desculpa pelas ocasiões em
que abusei da paciência deles sempre que quis exaltar o prazer no presente ou a
existência de melhores dias no futuro. A
rapariga vai, no entanto, dizendo-se encantada com este lugar de instabilidades
meteorológicas e natureza deslumbrante. Guardarei por isso o seu sorriso, as
gargalhadas, digo-lhe de que somos assim, nada a fazer, uma parte de nós não
tem emenda. Somos pesados, somos tristes, inclusive, a escrever, tão culpados
de tudo e de nada, tão sem jeito é esta videirunha à portuguesa, já dizia o
Alexandre O´Neill com razão e sem ela, ele que se despediu da vida em Agosto.