leva numa mão migalhas de
saudade, na outra a luz abatida
e enquanto uns dedos inventam a
cura da ferida
os outros murmuram adeus à aridez
da cidade
eu
digo: o teu olhar castanho
eu passo sem rima pelo binómio
mágoa e amor pesam em cada um dos
braços
o meu coração sustentáculo dança
e imperioso
faz-me do corpo imprecisa balança
eu
digo: o teu olhar castanho nebuloso
perdido
ao fundo dos teus olhos
eu sigo sem equilíbrio, sem sossego,
sem nada
só frémito, o medo de escolher a
mão fechada
mover o músculo errático e ficar
sem fim
na amargura que dos teus olhos
desagua em mim
Dulce Cruz
Dulce Cruz