sábado, 27 de julho de 2019

Um Verso de Márcia

Tenho este olhar assim

O Banco de Antero

dois pedaços de madeira
batido por uma luz amarga

o dia soube da tua ida ao armeiro,
e ordenou aos pássaros que recolhessem
mais cedo.

estrelas, no Céu, ninguém deixou dito se vieram,
e tu não estaria com elas
mesmo que olhasses para cima
quando o cano te tocou o palato,

sentaste-te porque querias ir embora,
farto de forçar o labirinto,
exausto de dizer ao norte
que a bússola, é, só, um adereço.

as coisas são como são,
não vale a pena dar-lhes debrum de rosas bravas, 
ou colheres de água quente
com três pitadas de açucar,

foi em Setembro, como podia ter sido em Janeiro,
aguentaste, como um felino,
o coice da solidão,
e disparaste dois tiros
para marcar o regresso,

quem te fechou os olhos
ouviu-te agradecer.

Emanuel Jorge Botelho, in "Ossos Dentro da Cinza", Averno, 2017.

Impostos da Vida

só querias
a verdade
enviaram-te facturas

Ana Paula Inácio, in Anónimos do Século XXI, Averno 2016.

Ontem, escrito numa parede da cidade

O que de Verão fazer?