André
Laranjinha apresentou, ontem à noite, no 9500-Cineclube, no Cine-Solmar, a curta metragem "Clarissas".
Num trabalho conjunto, pois contou com a colaboração de Maria Emanuel
Albergaria e do Museu Carlos Machado, o autor deste documentário obteve carta branca para filmar no
interior do Mosteiro de Nossa Senhora das Mercês, nas Calhetas de Rabo de
Peixe. Ao longo de vinte e oito minutos assistimos ao desenrolar da vida de clausura de oito freiras da Ordem Franciscana Feminina, único no arquipélago
dos Açores. Num registo fílmico marcado pelo silêncio e contemplação, acompanhamos estas
mulheres em oração, vemos o seu trabalho no jardim e na horta, a forma como cuidam
dos animais (um "Leão" que só sai à noite!) e ainda a sua dedicação religiosa, bem presente na realização de hóstias para a
comunidade católica açoriana. “Clarissas” só tem um senão, é curto, daí tornar-se um documentário muito peculiar, dada as suas imagens inéditas e registos orais, contendo planos muito bem definidos e com o devido apreço
sobre quem e como se filma. André Laranjinha sabe dominar a arte do enquadramento,
filmando planos gerais com muito rigor (a
imagem do conjunto das freiras em oração é magistral!) ou aquele contido e belíssimo plano médio de uma freira no seu quarto a ler. Este sabe que cada plano é uma entrada
para esse mundo narrativo e estético que nos quer mostrar, exigindo que cada
escolha seja certeira, confirmando deste modo que, para além da elegância da montagem, este filme contém muito boas ideias de cinema, pois, à
semelhança do que escreveu uma personalidade que lhe é tão cara, Paulo de
Cantos,“quem tem cabeça traz tudo o que é bom consigo”.