"Aos
jovens é frequentemente dito que são uma geração desprovida de cultura. Não há nada mais errado. Nunca existiu uma geração sem cultura e, se alguma assim
houvesse, não seria certamente a de quem é jovem nos dias de hoje. Aquilo que
há é portas por abrir e pontes por construir. Existem de facto muitos jovens
que são alheios a aspectos da cultura que as gerações mais velhas consideram
fundamentais tal como existem cada vez mais pessoas envelhecidas que não
compreendem nem se relacionam com a cultura dos jovens. A equação funciona para
os dois lados e nenhum tem maior culpa. Simplesmente é como é. A vertigem de um
mundo digitalizado vai fazendo com que, mais do que nunca, se rompam laços
entre quem fica de dentro e que fica de fora, quem vai à frente e quem fica
para trás.
No
fundo, o que importa é nunca parar de lançar sementes à terra. Aproximar e
misturar culturas e promover a permeabilidade da nossa superfície social. Não
negar a ninguém o direito à autorrepresentação, mas também não esconder que
seria bom que mais pessoas tivessem a capacidade de ler com sentido crítico e
ouvir com uma escuta atenta. Todos temos cultura, sim, mas melhor do que isso
é sair de casa e ser participante activo na vida cultural de uma comunidade.
Todo temos cultura, sim, mas ninguém tem em quantidades tais que se possa dar
por satisfeito e fechar portas ao mundo.
Não
liguemos ao que dizem os “mental coaches”. Ter uma zona de conforto não só é
óptimo como é fundamental. Há que encontrar e estimar aquilo que nos faz sentir
em segurança. Só assim podemos ter alento para experimentar o que está do lado
de fora e percorrer os caminhos da inquietação e curiosidade. E, quando esse
momento chegar, saibamos abrir as portas e sair por elas."
Martim
Sousa Tavares, in Brotéria, Maio/Junho
2023.