Noite e dia ao romper da aurora
quarta-feira, 5 de janeiro de 2022
Sobre os "Filhos da Madrugada", de Anabela Mota Ribeiro
"Público: E o factor família? Há muitos pais que não estudaram, mas dão importância à educação.
Anabela Mota Ribeiro: Sim, são os pais que compreenderam que a educação era uma vantagem, um caminho. Muitas destas pessoas falam abertamente sobre a pobreza. Este olhar para o passado, para a raiz, implica, em muitos casos, um reconhecimento de origens humildes. Uma amiga comentou, já o programa estava no ar, que uma ou duas gerações para trás todos íamos dar ao campo, à pobreza, ao analfabetismo; e que era importante, neste país envergonhado, que se vencesse um silêncio que ainda pesa sobre o lugar de origem, que nos constitui e forma. Muitos de nós sentem ainda desconforto, embaraço, dificuldade em dizer que a mãe foi criada de servir (como eram chamadas) que a avó era analfabeta, que vimos de um sítio de privação."
in Público, dia 2 de Janeiro de 2022.
"Perfetti Sconosciuti" de Paolo Genovese
Um jantar de amigos romanos, propensos a jogos durante o jantar, desencadeou o móbil para este argumento de "Perfetti Sconosciuti"", de Paolo Genovese. À altura, o filme gerou um debate intenso na sociedade italiana sobre o uso e abuso do "celullare". Por aqui, à semelhança de tantos outros temas de cariz contemporâneo, o assunto do filme passou ao lado, talvez a quadra festiva não o permitisse, obnubilados ficamos, assim, de qualquer reflexão ou pensamento que o seu visionamento possa ter sugerido. Não que o cinema deva estar ao serviço de bandeiras ou promover temas ou abordagens com fins imediatos, no entanto seria de bom de tom refletir quando as imagens e os diálogos assim o incitam.
Tiago Pitta e Cunha, Prémio Pessoa
" O desenvolvimento económico ainda de mãos dadas com a deterioração ambiental, e o nosso vem dos anos 80. Toda a construção em torno das grandes cidades, em solos agrícolas riquíssimos, que poderiam ter sido preservados para outras utilizações económicas; a construção nas falésias do Algarve; a questão dos incêndios, que foi altamente lesiva da biodiversidade e dos interesses económicos portugueses. Hoje temos muito poucas áreas a que possamos chamar floresta, o que temos são plantações de árvores. Se isto continuar, deixaremos de ter a tal biodiversidade, tão crítica para o futuro, nomeadamente até para a biotecnologia."
in Revista Expresso, 30 de Dezembro de 2021.