segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Ontem, escrito numa parede da cidade

Oxidada esta!

Gráfico

I
Curva dos espaços, curva das baías,
Vida que não é vida com os gestos inúteis,
Quem me consolará do meu corpo sepultado?


II
Mostrai-me as anémonas, as medusas e os corais
Do fundo do mar.
Eu nasci há um instante.


III
A mulher branca que a noite traz no ventre
Veio à tona das águas e morreu.


IV
Chego à praia e vejo que sou eu
O dia branco.

Sophia de Mello Breyner Andresen, in Coral, pág.25, Editorial Caminho.