Tenho uma Saudade Tão Braba
Tenho uma
saudade tão braba
Da ilha onde
já não moro,
Que em velho
só bebo a baba
Do pouco
pranto que choro.
Os meus
parentes, com dó,
Bem que me
querem levar,
Mas talvez
que nem meu pó
Mereça a
Deus lá ficar.
Enfim, só
Nosso Senhor
Há-de
decidir se posso
Morrer lá
com esta dor,
A meio de um
Padre Nosso.
Quando se
diz «Seja feita»
Eu sentirei
na garganta
A mão da
Morte, direita
A este
peito, que ainda canta.
Vitorino Nemésio,
in "Caderno de Caligraphia e outros Poemas a Marga".